MAU HUMOR? NEM JAZZ AGUENTA!

O show estava prestes a começar.

O burburinho era grande a se espalhar pelas mesas do espaço cultural ocupadas pela então chegada da platéia eclética e democrática, -pessoas de todas as idades e estilos-que ansiosamente já se preparava para a audição da banda de HERBIE HANCOCK.

E estávamos lá a procurar nossos lugares demarcados.

Foi então que comecei a "filmar" a cena que segue.

Não foi difícil perceber e deduzir que esse negócio de mesa compartilhada nesses eventos é tão surpreendente quanto a sorte de se ter qualquer outro vizinho.

E rapidamente percebi que a vizinhança não seria muito...gentil.

-Senhora, por favor, seu número é o onze mil e quatro também?

-Não, o meu é o onze mil e oito, mas quero ficar aqui para enxergar melhor.Pode sentar no "meu" lugar.

Ela, uma senhora pequenina, acompanhada da filha, e que pela idade aparente me pareceu ser quase nonagenária.

Elegante de taieur, com um piteira entre os dedos, cabelos oxigenados e curtos, e um ar imperial, parecia não mais saber sorrir.

Mas tinha vontade e determinação...e a filha sequer ousava desfazer o que estava decidido...

-Mãe, a m...m...moça...

-Já disse, eu quero enxergar melhor...e tudo!

Não insisti em absoluto e fui para o lugar dela...

-Mãe, a a m m...oça também quer enxergar!

Passaram poucos minutos ,chamou sisudamente o assitente da casa:

-Por favor dê um jeito nessa luz!

-Como assim, senhora?

E eu me aliviei, a coisa não era só comigo.

-Essa luz ali em cima (de pé direito triplo), daria pro senhor trocá-la de lugar? está me ofuscando a visão!

Não contive o riso...

-Senhora posso providenciar outra mesa ali mais atrás...

-Não vou sair daqui...quero ver tudo!

-Mas mãe, co...como o moço vai "tirar" a luz? É um holofote da casa mãe!

E assim foi.

Chamou o garçon e pediu uma cerveja preta com bolinhos de bacalhau.

E nem nos ofereceu, lógico.Comeu tudo sózinha.

Reclamou do preço e do troco.

Começou o som da banda.Sua visão era total...até, de pois da nossa reza brava, ocuparem os lugares vagos à sua frente.Não acreditei.

Nossas preces foram ouvidas.O rapaz que lá se sentou tinha tres vezes a altura dela.

Passou o show inteirinho pedindo licença a ele para poder enxergar.

E nós, devidamente vingados...vendo tudo! Eu ouvindo também, de camarote.

Ela não bateu sequer uma palma! Pude perceber que notou nossa torcida contra. E nem olhava pro nosso lado.

Findo o show, apagou o cigarro, fez-nos uma careta, e levou o maravilhoso jazz para casa temperado com seu extremo mau humor, já às raias da falta de "modos", que desaprendeu, ou jamais aprendeu pela vida.

E que o quarteto de HERBIE HANCOCK jamais saiba disso.

O Jazz não merece...