"Ó VIDA, Ó AZAR..."

E não pensem que é invenção de cronista não...

Aqui já nem me proponho a falar das "etiquetas"

A coisa é mais "básica"...acho que um desabafo em nome das boas maneiras, aquelas da tão saudosa educação dos velhos tempos.

Feriadão, e resolvemos ir à praia, num lugarzinho mais "eco",sem muita

muvuca.

Redundância procurar por praia "eco'? Que nada! É mais do que justificável.

E acho que o meu pensamento que segue, começa a contaminar o mundo por aqui.

Então perguntei a um amigo: "Vai à praia nesse feriado"?

Ao que me respondeu prontamente..."Deus me livre e guarde dessa penitência...é trânsito no pedágio, é fila e exploração pra tudo, sujeira pra todo lado, cachorrinho de madame deixando as "porpetinhas' pela areia, um povão malcriado, praias lotadas e contaminadas, isso sem falar na epidemia de dengue!, enfim fico por aqui mesmo rezando por QUEM VAI".

-Que nada, não é bem assim, esse teu amigo é que é muito azarão!

Mas deduzi que ele sequer SE DEU AO TRABALHO de rezar por nós...ou o santo dele era fraco demais para a tarefa proposta...!

Mas. respiramos fundo, e enfrentamos o que no fundo já sabíamos.

Quase um dia perdido para fugir do trânsito, porém todos, absolutamente todos tiveram a nossa mesma idéia. Empacamos que nem "burro véio" na estrada "do final de tarde"!

Enfim, chegamos em três horas , felizes da vida porque a média do tempo era de seis horas até o último feriado; deixamos as malas no apê, prontos para desmaiar e no dia seguinte fugir para as praias mais distantes...e finalmente relaxar...

Mas era preciso comer.

E refeições na praia...bem, seria melhor não arriscar mas a fome era grande, e nada que um "self service", aquele do vizinho lá de baixo da rua mesmo, não resolvesse. Seria impossível naquele cansaço eu enfrentar um fogão...

Peguei meu prato e fui para a fila quilométrica, e após alguns segundos de felicidade por ter chegado a minha vez, voltei para a mesa como prato vazio, porém com muitos respingos!

-O quê foi?

-Hã, nada,acho que perdi a fome.

-Mas por quê se estava verde de fome?

-Acho que é porque agora estou vermelha de raiva, respondi indignada.Tá vendo aquele ali de camisa havaina? Pois é, deu um espirro que irrigou desde a costa do Pacífico até a mais remota Mata Atlântica!

Minha mãe sempre me ensinou que nessas horas devemos "calar a boca" e deixar os outros comerem felizes, mas me senti com a consciência pesada frente a tantas bactérias...mesmo àquelas que o coração não sente porque os olhos não vêem! (Já caiu o acento?)

Vai que o estômago e os intestinos resolvessem sentir...

Então, passamos na padaria, tomamos uma média com pão e manteiga, e fomos para o sono dos injustiçados.

Noite seguinte, depois das praias, matas e cachoeiras...o cansaço nos abateu.

Precisávamos Jantar!

Para nós o feriado seria mais curto, pois retornaríamos antes do "rush".

E nada de "self service", encerraríamos com chave de ouro!

Dessa vez o jantar seria "à francesa", nada de espirros no meu prato, e eu, que vislumbrava fazer a minha dietinha básica, já fui preparada para sair de lá com fome.Como sempre acontece.Esse negócio de comida francesa, antes de 'chique" mais me parece um " conto do vigário", mesmo. Sempre fico procurando a comida no meio daqueles matinhos decorativos...mas ao menos pagaríamos pela higiene e pela educação...ponderei.

Bom, adentramos o restaurante e tudo parecia "nos conformes"...o lugar, a decoração, as pessoas, o requinte, o atendimento, quando de repente eu os avistei:

Ele...parecia o Tom Cruise, e ela tão bela e elegante quanto qualquer diva do cinema...

Sentaram-se ao nosso lado, e eu, bem mais confortada depois daquela história dos "espirros', observava-os de soslaio , pois me era impossível não admirar a elegância invejável, principalmente daquele cavalheiro...

"Agora sim, as boas maneiras voltaram" pensei aliviada...

Mas num dado momento, após ele educadamente lhe afastar a cadeira,ela se levantou e se foi em direção ao "toilette".

Não mais que um segundo depois, não acreditei no que via!

Percebi um barulho estranho soando no ambiente, que vinha logo ali da sua mesa, e que prontamente me permitiu um diagnóstico:

O galã sofria de rinite. Talvez alérgica ao perfume da dama...arrisquei.

Tirou elegantemente um lenço de tecido do bolso e soprou seu "trompete" bem ao nosso lado, por várias vezes...que ressou nos meus ouvidos o jantar inteirinho...numa cacofonia absurda...que contaminava a música ambiente.

-Não é possível, a epidemia do mundo daqui não é dengue não!-exclamei irritada! E agora só me falatava esse Tom Cruise entupido e desafinado...

Engolimos nossos "matinhos" às pressas e saímos do restaurante francês com os ouvidos cansados...e com os estômagos roncando...mas todos em educado e asséptico...silêncio.

-Isso só pode ser praga daquele teu amigo..."HIENA"!

Saí de lá pronta para acertar as contas com o santo fraco do meu amigo...azarão!

Mas nem com reza brava!

-Oh vida, oh azar...