Homenagem: Para Galdino, o índio pataxó
OS BONS SELVAGENS.
Pataxó, ou restos de tribos,
Reunião de povos perdidos
Ação de fazer amigos.
Inventaram os pataxós
A esperança na vida.
Queriam ter outra chance
De carregar mais um pouco
Cromossomos, crianças, tradições.
Conheciam a terra dos ancestrais,
Amavam as árvores dos ancestrais
Respeitavam os bichos dos ancestrais.
Mas, eis que a terra mudou,
E a chuva acidificou
E o ar se industrializou.
As águas escorrem viciadas
E o povo das cidades enloucou.
Pataxó foi à Brasília
E viu o presidente.
“Quem é esse homem barrigudo?
Quem é esse homem gordurento?
Quem é esse homem que diz bonito
Palavras que eu não entendo?
Quem é esse homem elegante,
Que tem guardas de plumas na porta?
Por que tantos vidros no palácio?
Por que palácio?”
Sua casa de palha é tosca,
Porque a vida é certa e se acaba,
Sua casa de vime é pobre
E pode ser esquecida no passado
Suas afamadas armas são de pau
E podem ser largadas na estrada.
As crianças sorridentes.
As mulheres parideiras.
Pataxó quis voltar pra casa
Esperou ônibus atrasado
E dormiu na estrada.
Sonhou que estava queimando
Assando como um moquém
( e de fato estava queimando,
enquanto uns garotos riam,
com garrafas de álcool e fósforos,
os garotos se divertiam).
Abriu os olhos, viu luzes e vidros
Achou que era hóspede no palácio,
Mas estava é no hospital.
Pataxó se finou num instante
Morreu sorridente, pensando:
“Onde ficou a bola que comprei pro Paulinho
( Para Galdino Jesus dos Santos, pataxó queimado vivo, em Brasília, 1997, por rapazes de classe média alta, em um ponto de ônibus, enquanto dormia, esperando condução para voltar pra casa. O crime causou indignação, os rapazes foram julgados, e, parece, já se encontram em liberdade)
(A denominação pataxó hãhãhãe engloba várias etnias, conforme aprendi hoje na Internet)