Leonor - Heroína Brasileira

Lembro-me como se fosse hoje, fazia um dia lindo,

pela casa esparramamos nossos brinquedos, e

no quintal minha mãe preparava uma barraca; barraca

feita de estacas e alguns lencóis velhos. Ela puxava, amarrava e pregava. Feita com muito esmero, a barraca ficou imensa; Minhas irmãs Lígia e Luiza, eu e meu irmão Flávio, ficamos eufóricos com a nova brincadeira. Minha avó Caetana, preparava a massa do pão caseiro, nós sempre éramos os primeiros a devorá-los. Quando percebíamos que ela iria tirá-los do forno, corríamos gritando:

__ Vovó quero o meu quentinho!

Ela nuca resistia ao nosso ”pidoncho“ apelo

Vovó costumava fazer pãezinhos para alegrar as criancas. E pães gigantes para a semana toda. Guardei o sabor daqueles pães dentro de mim, lembranças deliciosas da minha querida vó Caetana, uma espanhola baixinha, muito doce, meiga e adorável. Agora ela faz pães

para Deus provar e se fartar.

Minha mãe passava, dois ou quase três meses sozinha em casa, cuidando das criancas e da sua querida Mãe. Papai viajava muito, com seu caminhão, por esse mundão de Deus.

Pronta a barraca, tratamos de fazer a festa. Sempre estávamos unidos, brincando de casinha, de bicicleta, pega-pega, cabra-cega e muitas vezes de unha e carne. A casa era muito grande e o quintal imenso, um terreiro plano, quase não tinha flores, apenas um lindo pé de pêra.

Minha mãe satisfeita com sua barraca, deixou-nos ali, brincando e foi fazer suas tarefas diárias. Quatro filhos exigia muito dela.

As horas corriam soltas, o tempo brincava com as criança, esquecia o relógio e também a fome. Quando de repente surge um homem estranho na cerca. O terreno ao lado da minha casa era baldio, não tinha nenhuma construção; Aquele homem nos olhava com muita maldade, ficamos petrificados, sem reação. E vovó começou a gritar: __ O que você quer?

__ Vá embora, vocês está assustando as criancas.

Minha mãe ouvindo os gritos da minha vó, não pensou duas vezes.

correu até seu quarto e abriu a gaveta, onde ela guardava o revólver calibre 38, que pertenceu a seu pai. Saiu decidida a proteger sua cria,

e foi se aproximando da barraca, com a arma em punho:

__ Moço o Senhor vá embora, está assustado as crianças.

O homem apenas a olhava e com um sorriso amarelo, cuspiu alguma coisa que ele mastigou. Ignorando minha mãe e a arma que ela exibia.

Minha mãe nervosa, deu mais um aviso, e novamente foi ignorada.

Ela então, apertou o gatilho e foi tiros por todos os lados.

O sujeito correu, desesperado, gritando:

__Calma dona, calma dona.

Nós todos ali, assustados com os tiros, não resistimos áquela cena, o sujeito correndo, foi muito engraçado e, rimos, rimos muito.

Mas a brincadeira na barraca acabou, mamãe preocupada, achou melhor nós brincarmos dentro de casa. E o sol continuava quente,

brilhante, convidando-nos para correr pelo quintal, subir no telhando, e minha mãe a heróina do dia, continuou seus afazeres domésticos, sem perceber nos olhinhos das suas crianças a admiração e sentiram-se seguros embaixo das asas daquela mulher valente.

Hoje Leonor continua sendo heroína, cuidando do marido que é deficiente visual e tem o mal de alzheimer. Dedica 24 horas do seu dia ao seu parceiro, com muito carinho.