LISBOA VISITADA
Maria estava eufórica com a viagem;seria a sua em primeira visita á Europa e começaria por Lisboa,cidade que sempre mexeu com o imaginário dos brasileiros.Meio assustada,por viajar sozinha(o marido,um velho urso,nunca ia a lugar nenhum)e ela temia não entender nem se fazer entendida,pois,diziam,o linguajar de lá era bem diferente do nosso.Viajante “classe econômica”informou-se com uma amiga e se hospedou numa pensão familiar,na Rua Defensores de Chaves,cujas donas,duas irmãs que deviam ser contemporâneas de Eça,comandavam com mão de ferro,atentas á moral e bons costumes.Seus problemas começaram quando pediu informação sobre transporte.
-Aonde fica o ponto de ônibus mais próximo?A informante parecia não entender nada.
-Sim,quero pegar um transporte para ir á Rua do Ouro.A mulher respondeu:-A parada do autocar é logo ali;e apontou o lugar.
-Porque a senhora não vai no elétrico?È mais giro para chegar á Baixa.Cabisbaixa e aturdida ficou a  Maria,que diabo seria elétrico;mas,logo o viu apontar,o mais lindo bondinho,que seus olhos já viram.
Na Baixa,fascinada com a beleza secular de Lisboa,que neste sítio se parece demais com aSalvador,relaxou um pouco,subiu e desceu suas ladeiras antigas,admirou as velhas fachadas de casas seculares e aí bateu  a fome. Dirigiu-se a uma lanchonete e pediu um sanduíche e um suco;já disse que Maria era “durista” e não tinha dinheiro para restaurantes sofisticados,como o Muchacho,por exemplo,que aliás,ficava bem distante. A garçonete sugeriu uma cadelinha e um sumo de laranja,mas,Maria explicou que era brasileira,não comia cachorro;a empregada riu muito e disse que cadelinha era um pão com carne metida dentro e sumo era suco.Maria aceitou e,por fim,ainda tomou um pingo,que era café com leite.Acalmada a barriga,ela reparou num gajo,que se sentava ao lado e a olhava com olhos gulosos;não sei porque,português quando vê brasileira tem sempre idéias eróticas e este não foi diferente.A conversa  ficou animada e Maria foi convidada a comer sardinhas fritas,na feira,acompanhada de um bom vinho Porca da Múrcia.Sairam,foram ao Mirante de Santa Luzia apreciar a bela vista de Lisboa e Maria descobriu que seu herói era casado e tinha três putos.Putos?-Tres filhos pequenos,nós os chamamos assim,aqui.Que lugar esquisito,Maria pensou:os homens andam vestidos de fato,crianças pequenas são putos e rapariga é moça de família!  O rapaz se desculpou;antes do jantar tinha que ir a uma das lojas,na Baixa,comprar uma camisola;além de tudo,viado,ela pensou.Maria,o galã não era boiola,que,aliás, Portugal,é “paneleiro”;o pobre rapaz só queria comprar uma camiseta.Do Benfica.

Miriam de Sales Oliveira
Enviado por Miriam de Sales Oliveira em 24/04/2008
Código do texto: T959926
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