Clarice Lispector: A hora da estrela

"A morte é um encontro consigo" Essa é uma das últimas frases de A hora da estrela, romance lançado por Clarice Lispector, em 1977, pouco antes de descobrir o câncer no ovário e morrer em 9 de dezembro, bem na véspéra de completar 57 anos.

Após 30 anos da primeira edição, a obra é emblemática na trajetória da escritora, pois carrega uma série de singularidade: foi uma tentativa de a autora abandonar a subjetividade extremada dos livros anteriores tem uma narrativa comuflada na qual Clarice usa a voz masculina de Rodrigo. M; apresenta a figura pertubadora da personagem Macabeá, desprovida de encantos, e pincela o tema morte em diversos trechos. Hoje relembrando a citação da escritora, podemos amenizar a saudade de Clarice com a idéia de que não morreu simplismente, mas encontrou-se com ela mesma. Virou estrela.

Apesar da proposta de um texto mais objetivo, a escritora não conseguiu se esconder completamente em A hora da estrela. Isso está claro na explicíta reflexão sobre a complexidade da vida, a miserabilidade humana e a dificuldade de entrar na história e apresentar a personagem, que tem seu nome pronunciado pela primeira vez já no meio do romance, quando Macabéa conhece seu namorado Olímpico.

A escritora não abandonou seus questionamentos metafísicos, mesmo recorrendo com frequência ao cotidiano ao traçar o perfil de Macabéa. Clarice está toda, em A hora da estrela. Ao criar Macabéa, ela descobriu uma maneira de significar sem precisar se dar de conta do mundo e das coisas que pertencem a ele. Macabéa não tem consciência da sua existência e, talvez a própria Clarice quisesse, em algum momento, se assumir Macabéa e poder só existir, sem se explicar.

Clarice foi uma escritora de romances, contos crônicas e também de cartas e na maioria dos seus textos percebe-se um enorme respeito pela condição humana . Vale ler as suas obras, principalmente a sua última, A hora da estrela.
Naná
Enviado por Naná em 19/04/2008
Reeditado em 07/05/2008
Código do texto: T953161