HOMENAGEM À POETISA MARIA JOSÉ XAVIER
(Dedé)
Ninguém é de ninguém
Ninguém é de ninguém
Que gozado é este mundo
Onde todos têm um nome
Onde todos têm um bem...
Para que tanta coisa
Para que tanto cuidado
Se ninguém é de ninguém.
Até o céu que está distante
Tão sozinho no horizonte
Até ele tem um bem.
O bem do céu é a terra
Eles se amam de longe
Mas não são
Um do outro também
Por isso não fiques triste
Se nada a ti pertence
E se não tens um “teu” alguém
A vida é assim mesmo
A gente vive sozinha
E, o que mais se quer
Não se tem!
CANSAÇO
Tenho pavor dos dias vazios, das horas sem fim
Do tempo cansado
Que segue ao meu lado
Que segue por mim...
Tenho pena da alma inútil
Que mora em meu peito
Que vive calada
Sem crer em ninguém...
Tenho inveja do céu azulado
Que sonha dourado
Nas manhãs de sol
Tenho inveja dos passarinhos
Que passam cantando sem nunca chorar...
Tenho vontade de ir caminhando
De ir acabando para um pouco sonhar...
Vento
Vento malvado que vai carregando
As folhas secas para o além...
Vento que embala os passarinhos,
Vento que vai, vento que vem.
Vento menino que segue brincando
Sempre sozinho sem ter um bem
Vento malvado, que passa voando
Sempre correndo, em busca de alguém.
Assim como o vento, passamos correndo
Vivendo a vida, sozinhos também
Em busca de amor, em busca de paz.
Mas, o vento passa e volta de novo
E, nós,... se passamos...
Não voltamos jamais!
ALEGRIA NA TARDE MANSA
A tarde está bonita
No seu azul tão claro,
Na sua alegria mansa...
Nuvens passeiam no céu distante
Aves cantam despreocupadas
E a paz em tudo descansa...
Também dentro de mim
Há uma alegria estranha
Como se minha alma fosse um céu aberto...
Talvez seja por isso
Que olhando o horizonte tão longe
Sinto que ele hoje está mais perto...
Reflexo
Uma tristeza bonita
Passou vestida de melancolia
Por aquele jardim...
Nesses bancos gelados
Esta tarde vazia
Tem tanto de mim!...
Noite
A lua sentou-se num banco
Da praça isolada
Pra poder descansar...
... adormeceu!...
E a noite ficou tão escura
Que nem a solidão
A gente podia enxergar...
...
Não aceites a vida
se ela for simples, banal,
quase feliz, tranqüila,
sem gritos de revolta ou de dor...
Faze uma vida à tua semelhança
E molde-a, como quem na branda argila
Modelasse um brinquedo de criança...
Saiba perder, o que vencer não pode
Para haver um vencedor é preciso um vencido
Mas, do termo final, já não me iludo:
Basta a triste certeza de ser “nada”,
Basta a vaga esperança de ser “tudo”.
(Maria José Xavier - Dedé)
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Maria José Xavier, nossa querida Dedé, povoou com sua ternura, sua inteligência, sua amizade, os felizes dias de minha vida de estudante, naqueles longínquos anos da década de 60, na hospitaleira São Joaquim da Barra, minha terra por adoção.
Juntos compartilhamos idéias e planos. Juntos sabíamos dos sonhos de um e de outro e de comum acordo, havia o respeito, a fineza de sabermos cada um trilhar o caminho, o destino traçado.
Ela teve um amor e por ele se arrastou, ora alegre, ora triste, na sua curta e brilhante passagem por entre nós.
O seu amor, era todo o seu sonho de menina-moça, e ele nasceu justamente de onde deveriam sair os mais sábios conselhos, as mais corretas e sublimes lições, o mais puro ideal... Por esse utópico amor ela lutou arduamente, com seu coração-poeta, com suas ilusões juvenis, puras e castas e por ele, ela deixou este mundo, para viver, quiçá, outros sonhos, outros amores, em outras dimensões.
Maria José Xavier, morreu vítima de suicídio por ingestão de medicamentos, aos 20 anos de idade, no dia 27 de abril de 1967, em São Joaquim da Barra, Estado de São Paulo.
Está sepultada no cemitério desta cidade, na quadra 2D, n°. 1218.
Em 1966, concluiu o Curso de Magistério, no Colégio Estadual e Escola Normal de São Joaquim da Barra, atualmente Escola Estadual Professora Genoveva Pinheiro Vieira de Vitta, de 1° e 2° graus.
Se, por acaso, um dia passar por São Joaquim da Barra, não esqueça de deixar-lhe um ramo de flor... e, se isto não for possível, eleve a Deus uma prece em memória de sua alma.
Foi-se a poetisa, ficaram a saudade e as lembranças de seus belos versos...
Recado
Quero-te bem.
Na carta que te escrevo
Parecerá pequena a confissão.
Talvez nem fiques satisfeito.
Mas, não me atrevo
A traduzir-te o amor dessa expressão:
Sinto meu peito quase oco
Como se, ao invés de dizer-te tão pouco
Eu te mandasse o próprio coração...
(Maria José Xavier – Dedé)
Vinhedo, 31 de março de 2008.