HOMENAGEM AOS MEUS PAIS

Um dia ... Tu lembras o dia ?

Diante dos olhos teus

Deslumbrava-se alegria,

Triunfos, menos – Adeus !

O olhar de moça-menina,

A meiguice em cada gesto ...

Tu traçaste uma sina,

(Não vi, mas isto eu atesto).

Diante daquele povo

Que de outras paragens vieram,

Quando tudo era novo,

Quando teus sonhos quiseram:

Vislumbravas ! – Eu vi da janela;

Diante de Cristo, um sinal,

Que não eras para ela

Apenas um simples mortal.

Sei o bastante e me basta,

O passado e tudo enfim:

Tu e a menina casta

Disseram um para o outro: Sim !

Mas a menina serena ...

Tua fama de homem vivido ...

Só causaram tanta pena !

Muito mais do que eu tinha lido !

O homem – Chefe da casa ...

A mulher – Preparando a ceia ...

A desilusão criou asa,

Tecendo uma longa teia.

Querias uma mulher, ter,

Alheia à vida e ao mundo

E ela começou a te ver

Como um simples vagabundo !

Tu não estavas contente

E aquela insensata senhora,

Passou a ver de repente,

(Todo dia e toda hora);

O seu viver e tudo mais

Reduzido a quase nada;

Não contava com seus pais:

(Só permanecia calada).

Só sei dizer claramente

O que se via depois:

Um se esconde e o outro mente ...

(Só desavença entre os dois)

Não sei dizer o caminho,

O atalho, o tropeço, os sinais ...

O reverso e desfeito ninho

Em que se perderam meus pais.

Não vasculhaste em tua alma

Nem mesmo por instantes;

A razão da aparente calma

De teus pequenos infantes.

Não cuidaste de ti mesmo;

Nem mesmo cuidaste de ti:

Seguias sem rumo e a esmo ...

(Deus por todos, cada um por si !).

Eu sei, deu voltas, o mundo.

A vida lhe parecia injusta

E neste abismo profundo,

Viveste à própria custa.

Viraste o rosto para àquela,

Tramaste um belo final:

Outra, perdida mas bela,

Colocaste em pedestal !

Chamando-a de “Tua querida”,

Talvez com o nome de “Inês”...

Não te culpo nesta vida

Pelo que a vida te fez !

Não vejo mais o meu rosto

Neste espelho fatal;

Por resignação ou desgosto,

Relevo todo este mal !

Meu anjo, pelos dois, vela;

É desse jeito que vai:

De mãe, chamando ela;

Chamando teu nome de pai !

Hoje te vejo mais sereno,

Mais forte, mais pleno e feliz ! ...

Por isso, não te condeno,

(É o que a experiência me diz).

Ouvir o eco dos atos,

A profunda e sábia voz:

“O que vale é juntar os cacos

Do que fizemos de nós” !