JOSE CERQUEIRA FONSECA.
- O Guardião do Povo e da Cidade
Em um tempo em que os recursos eram escassos e os serviços públicos ainda engatinhavam nas cidades do interior da Bahia, nasceu, em 12 de julho de 1912, uma figura que viria a ser alicerce de uma comunidade inteira.
Seu nome: José Cerqueira Fonseca — mas o povo o chamava, com carinho e reverência, de Zezito da Farmácia. Faleceu em 11 de maio de 2001, aos 88 anos, deixando um legado que ecoa, vivo, na memória coletiva de Santo Estêvão.
Senhor Zezito foi, ao mesmo tempo, homem comum e extraordinário. Um brasileiro de alma vasta, múltiplo em talentos, férreo em valores, e generoso por natureza.
Casado com Dona Zuleica, uma mulher chinesa, artista das mãos e do coração, restauradora de imagens sacras e pintora refinada, construiu uma família sólida e admirável. Juntos, criaram filhos que todos alcançaram o ensino superior, em tempos nos quais isso era privilégio de poucos. Um feito heroico para quem vivia no interior e carregava nas costas, todos os dias, o compromisso com o bem-estar do povo.
- O Guardião da Saúde Popular
Em plena escassez de infraestrutura médica, Zezito se tornou o socorrista universal de Santo Estêvão. A sua farmácia era mais que um ponto de vendas de remédios — era uma unidade de pronto atendimento improvisada, onde ele mesmo atuava como farmacêutico, parteiro, enfermeiro, ortopedista, dentista e até clínico geral.
Costurava cortes profundos, engessava braços e pernas, extravasava abscessos, medicava, acalmava febres e confortava angústias — muitas vezes no meio da madrugada, sem jamais cobrar por isso dos que nada podiam oferecer.
- E ele nunca dizia “não”.
Seu saber era empírico, mas preciso; fruto de décadas de prática, de escuta, de leitura e de um faro clínico que misturava ciência com intuição e cuidado com compaixão. Ele era, para muitos, o primeiro e último recurso. Um verdadeiro médico da dignidade.
- Um Empreendedor de Mil Faces
A farmácia era só o começo. Atrás do balcão de medicamentos, havia uma vidraçaria onde ele mesmo cortava vidros e montava molduras. Vendia cimento, frutas e verduras produzidas em seu sítio, e ainda organizava a logística de entrega de leite fresco vindo da sua fazenda. Criava gado, cultivava alimentos e até comercializava cágados, que enviava para Salvador.
Homem de ideias inquietas, Zezito construiu diversas casas de aluguel com plantas arquitetônicas padronizadas, como um verdadeiro visionário do urbanismo popular. Era um fazedor de cidades dentro da cidade. Um homem que entendia que desenvolvimento não vem apenas da política, mas da ação concreta de quem arregaça as mangas.
- O Mecenas da Cultura e da Alegria
Zezito também era cultura. Fundou o Cine Teatro Alvorada, um espaço de exibição cinematográfica, mas que logo se tornaria o coração pulsante dos eventos festivos da cidade. Nas festas juninas, nos carnavais e nos réveillons, retiravam-se as cadeiras, e o cinema virava salão de baile. E quem animava a festa? Sua própria banda: a Any Jazz. A música era outra das linguagens com que ele falava ao povo.
Para anunciar seus eventos e os filmes em cartaz, utilizava um carro de som volante — um verdadeiro precursor das ações de marketing comunitário. E, como se não bastasse, todos os dias, ao meio-dia e às 18h, fazia soar uma sirene militar no telhado da farmácia. Aquela sirene virou lenda: marcava a rotina da cidade e se tornou símbolo do relógio social de Santo Estêvão. Era como se dissesse: “Aqui há ordem, aqui há cuidado, aqui vive Zezito.”
- Líder Político e Homem Público
Zezito Fonseca foi também uma figura política destacada. Vereador por diversos mandatos, presidente da Câmara Municipal em mais de uma ocasião, era nome sempre lembrado para a disputa pela prefeitura — ainda que tenha preferido, muitas vezes, permanecer nos bastidores, sustentando com sua liderança silenciosa as bases da cidade.
Seu filho, o advogado Almir Fonseca, candidatou-se a prefeito pelo MDB, e mais tarde, o outro filho, o médico Dr. Antenor Fonseca, foi eleito vereador e, posteriormente, prefeito com expressiva votação.
A política, para ele, nunca foi vaidade — foi apenas mais uma forma de servir. E ele serviu. Com firmeza, com ética, com entrega.
- Justa Homenagem a um Imortal da Cidade
É impossível narrar a história de Santo Estêvão sem falar de José Cerqueira Fonseca. Sua presença não era apenas física, era emocional, simbólica, espiritual. Ele foi médico e artista, empresário e agricultor, líder político e agente cultural. Foi o homem que fez da própria existência um gesto diário de amor à cidade e às pessoas.
Que seu nome seja lembrado não apenas em placas, ruas ou memoriais — mas no coração dos que reconhecem o valor de uma vida vivida com propósito, humildade e grandeza.
José Cerqueira Fonseca não pertence apenas à sua família. Ele pertence ao povo de Santo Estêvão. E por tudo que foi e representou, é digno de todas as homenagens. Eterno em memória. Inesquecível em legado.
ZEZITO DA FARMÁCIA - A grandeza de um homem simples e coração generoso, nome que a Cidade jamais esquecerá.