Meu primeiro Batman

Não lembro a data exata, mas eu era bem criança quando ganhei dos meus pais meu primeiro gibi do Batman. Bem provável que nem soubesse ler ainda, então eu mesmo montava um enredo conforme acompanhava os desenhos. A revista tinha duas histórias. Na primeira, o Homem-Morcego entrava na casa de espelhos de um parque de diversões, brigava com bandidos (um deles tinha um lança-chamas), quase era morto pelo Charada, salvava uma pessoa em meio a um incêndio. A segunda mostrava o herói contra uma gangue de correntes e porretes que barbarizava crianças em Gotham City.

Depois de tê-lo folheado milhares de vezes, o gibi sumiu – minha mãe o deu embora ou simplesmente ficou guardado em algum lugar antes de virar lixo. De qualquer forma, os sentimentos que surgiam em mim graças àquelas páginas eram bem fortes. Ficava fascinado e amedrontado pelas figuras soturnas, envolvidas em sombras, violência explodindo dos quadros. Pra um garotinho, aquilo era o mais perto que se poderia chegar do submundo feio e sujo sem se ferir. E o melhor: o bem sempre vencia no final.

Muitos anos depois, já leitor formado de quadrinhos, me interessei pelo clássico arco Cavaleiro das Trevas, Cidade das Trevas (Detective Comics #452 a 454), escrito por Peter Milligan e desenhado por Kieron Dwyer. A Editora Abril o publicou em 1991 durante a terceira série do personagem, nas edições 18 e 19. Cacei as revistas em sebos (tarefa bem simples, na verdade) e, quando começo a ler uma delas, tudo me parece estranhamente familiar: o Batman em uma casa de espelhos, bandido com lança-chamas, Charada, incêndio… Eureka! Era o gibizinho da minha infância.

Batman #19: essa é a capa da HQ que me aterrorizou e, ao mesmo tempo, me deixou apaixonado pelos super-heróis quando criança

Interessante notar como o fascínio por super-heróis ainda continuava comigo, de forma consciente ou não, após todo esse tempo. Acho que isso tem muito a ver com nossa sociedade atual: poucas coisas são tão contemporâneas quanto o conceito super-heroico. Basta perceber a busca cada vez maior pelo sobre-humano – força, beleza, inteligência.

Porém, a História também ajuda a entender esse fenômeno popular. A partir do século 20, a complexidade do mundo aumentou exponencialmente em todos os níveis – político, social, ideológico, geográfico. Daí veio a necessidade de o homem fugir da realidade. Surgem, então, os seres fantásticos dos gibis, aqueles com o poder físico e mental de restaurar a normalidade. Não à toa, a explosão dos super-heróis na cultura americana se dá uma década após a Grande Depressão, às beiras da Segunda Guerra Mundial.

Se ali no início dos anos 1940, vários gibis vendiam mais de 1 milhão de exemplares ao mês (Superman, Captain America, Whiz Comics), hoje, bilhões de dólares são arrecadados ao redor do mundo com filmes baseados nesses mesmos personagens. Prova concreta de seu apelo universal e atemporal.

Joseph Campbell, em seus estudos antropológicos, afirma que os mitos são variações de uma mesma narrativa. É a “jornada do herói”, representação da busca do homem pela transcendência. Ora, quando Jerry Siegel e Joe Shuster criaram o Superman lá na década de 1930, também se inspiravam nos contos e fábulas sobre virtude, superação etc. O super-herói, portanto, é o mais perfeito mito moderno.

Garotinhos que só querem ver seus personagens favoritos darem um sarrafo em bandidões não precisam saber disso tudo. Mas são eles os responsáveis a levar adiante esse importante nicho da cultura. Afinal, os super-heróis também explicam o mundo.

Em tempo: a edição 19 de Batman, tão importante para minha vida, tem a parte final de Cavaleiro das Trevas, Cidade das Trevas e um conto (o das gangues, citado no início do texto) escrito por Alan Grant, com a arte cinética de Norm Breyfogle. Tá explicado o porquê de meu fascínio infantil com o personagem.

Em tempo 2: Homens do Amanhã, livro de Gerard Jones sobre o nascimento dos quadrinhos de super-herói, é leitura imprescindível para se entender o impacto dessas revistas na sociedade americana

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Uma resposta para “Batman, infância e a jornada do super-herói”.

Quando era pequeno tinha um gibi do Homem-Aranha, onde ele tinha como inimigo o Venom (pra mim era o homem-aranha do mal). Ele tinha sido contado pelo Governo Soviético para causar no Estados Unidos. Ou seja, pura Guerra Fria no contexto. Lembro em um diálogo sobre com a palavra carnificina… E fui no dicionário ver o significado e fiquei surpreso haha

Não sei quem é o autor do texto.

Quando comecei a leitura confesso; imaginei que poderia ser a única pessoa que, fala do que mais importa !

Carlos Vazquez

Da Mansão Wayne .

Mas acredito que não seja.

De qualquer forma

eu amei e resolvi postar.

Espero que vocês também gostem....

Bruxa Escritora

Bruxa Escritora
Enviado por Bruxa Escritora em 22/03/2025
Reeditado em 22/03/2025
Código do texto: T8291311
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