Minha dor é perceber

Como Nossos Pais, é uma das músicas mais icônicas da música brasileira. Composta por Belchior e lançada no álbum Alucinação (1976), a canção ganhou notoriedade na voz de Elis Regina, que a interpretou de maneira intensa e emocional no mesmo ano. A versão de Elis tornou-se um dos maiores sucessos de sua carreira e ajudou a eternizar a obra de Belchior.

A letra traz uma reflexão profunda sobre a passagem do tempo, as desilusões da juventude e a repetição de padrões entre gerações, temas que continuam ressoando até hoje.

Reflexo do contexto histórico e social da época, a canção fala de um conflito geracional e da angústia da juventude. Também por isso, continua fazendo sentido nos dias que correm e ainda é um sucesso, tanto tempo depois.

Desde os primeiros versos, podemos perceber que a música tem um interlocutor. O sujeito está falando com alguém, que identifica como sendo o seu "grande amor".

Explica que não quer falar de assuntos abstratos como sonhos, nem de arte ou música. Ele precisa falar da sua vida, partilhar com o outro aquilo que tem passado.

Existe, no ar, um clima de urgência, que vai sendo confirmado ao longo da canção. Na segunda estrofe, é sublinhado o valor da vida como algo superior, mais importante do que qualquer outra coisa.

Significado da música.

O tema dá voz a uma geração de jovens que viram a sua liberdade confiscada pela instauração da ditadura militar brasileira.

Frutos de uma época marcada pela inovação, a experimentação e a contracultura, seu estilo de vida foi alterado pela chegada da repressão.

O retrocesso cultural e social gerou sentimentos de angústia e frustração nessa juventude, que não teve a oportunidade de trilhar seus caminhos longe da perseguição e da censura.

Belchior é, em Como Nossos Pais, porta-voz do seu tempo e do conflito geracional em que se vivia. Embora pensassem de forma diferente e tivessem batalhado pela liberdade, esses jovens acabaram condenados a viver segundo a mesma moral conservadora que a geração anterior.

A última estrofe parece ser uma reflexão acerca de todo o percurso da sua geração. Desiludido, o sujeito faz uma crítica evidente àqueles que foram seus companheiros de luta.

Os antigos revolucionários e mesmo os artistas, que despertaram a sua consciência, são os mesmos que se venderam. É visível o rancor do sujeito, ao perceber que seus antigos ídolos foram corrompidos pelo dinheiro, o "vil metal".

Ivan Santos Professor
Enviado por Ivan Santos Professor em 17/03/2025
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