Dia da Consciência Negra
Esse é um tempo decolonial
De escrever uma nova época
Que não seja mera continuidade
Da escravidão eterna.
Séculos de dor de um povo
Estão nas entranhas da história
Cansadas dessa náusea antiga
Encontram nada de novo no hoje.
A morte dos meninos pretos
O abuso de meninas pretas
Mulheres, crianças, homens
Considerados menos gente.
Notícias todos os dias
De corpos destroçados pela crueldade
De corpos aprisionados pela cultura genocida
De um extermínio em andamento.
O racismo é um pilar
Dessa (não)civilização
O objetivo é higienizar
Sufocar, tragar, engolir.
Nossos irmãos negros
São muito mais do que fortes
São bem além de guerreiros
Eles são livres.
A pretensiosa supremacia branca
Escrava de si mesma
Não enxerga nada além da cor
E do preconceito.
A humanidade agrilhoada
Pensando-se moderna
Segue reproduzindo (des)valores
E se repetindo em barbáries.
O povo negro, sem arrogância
Resiste, tentando ensinar o óbvio
Que não haverá paz nessa terra
Enquanto prevalecer o ódio.
Essa permanente aflição
Continuará a comprovar
Que nunca houve evolução
Mas uma sucessiva aniquilação.
Aru Lapolli
(republicando texto meu de 2020)