Pulsar (Para o meu amigo Dingo)
Pior que morrer
é estar vivo sem viver;
é não se inventar
nem investir em si mesmo
e não se aventurar
pelo tempo sem tento
que nos consome;
é não saciar a sede e a fome
do que nos traz prazer;
é não se arriscar
nem se sentir...
também não sentir o torpor
de emoções desmedidas;
é pro viver se adiar
e não correr riscos de vida;
é andar sobre os trilhos
com o medo
achando que é sempre cedo
em conhecer outros caminhos;
é estar de camarote
vendo seu tempo passar
fazendo disso
seu infiel passatempo
para depois lamentar-se
pela rigidez da idade
e pela infelicidade;
é se infelicitar
por depositar, nos outros, o seu brilho
é de algo se depender
sem se dar conta
de que viemos,
vivemos e vamos sozinhos...
é ignorar o calendário
e as voltas que o mundo dá
mas sem desperdiçar nenhum de seus pulsos;
é não conhecer o crepúsculo
e nem se importar com a aurora;
é não fazer de suas horas um bom tempo
pro seu presente viver;
é não andar sob a chuva ou o sol
não vendo em si a beleza
qual mesma é do arrebol
que morre, que nasce
que rompe
mas que renasce...
Pior que viver
sem se sentir a vida
é o não querer
pra algo inexistir
pra certas coisas morrer
e não saber
somente e só ser feliz.
Beto Acioli
Abreu e Lima, 31 de outubro de 2024