36 Anos Do Primeiro Mundial De Ayrton Senna
Alain Prost foi mais rápido que Ayrton Senna nos treinos livres de sexta-feira pela manhã, situação revertida horas mais tarde quando o brasileiro assinalou o melhor tempo e pôs sua McLaren adiante da Ferrari de Gerhard Berger, com Prost em terceiro e Nigel Mansell em quarto com a Williams, melhor carro aspirado do treino. As condições da pista melhoraram no dia seguinte a ponto de vinte e quatro dos vinte e seis pilotos habilitados para a corrida melhorarem seus tempos assinalados na véspera e os resultados foram óbvios, pois a McLaren detinha a primeira fila com Senna na pole position tendo Prost ao seu lado.
"Foi uma mistura de erro meu com uma sensibilidade excessiva da embreagem", explicou Ayrton Senna ao descrever porque seu motor falhou na hora da largada. Enquanto Alain Prost disparava na frente, restou ao brasileiro torcer para que sua McLaren não fosse abalroada em meio aos carros que passavam por ele em alta velocidade. Quando pôs-se em movimento, estava em décimo sexto lugar, mas logo na primeira volta o aprumo de seu equipamento permitiu-lhe chegar ao oitavo posto sendo que, no giro seguinte já estava em sexto ao superar a Williams de Riccardo Patrese e a Benetton de Alessandro Nanini. Quatro voltas após a má largada, Senna estava em quarto após suplantar a outra Benetton de Thierry Boutsen e a Ferrari de Michele Alboreto, quase tocando roda com o italiano na freada da chicane.
O avanço de Senna até o quarto lugar chamou a atenção de quem via a corrida. Na sexta volta o italiano era o segundo colocado adiante de Gerhard Berger e não apenas issoː o piloto acelerou sua March e cravou a volta mais rápida mais de uma vez e em seu fulgor alcançou Alain Prost em plena reta dos boxes ultrapassando-o pelo lado de fora da pista na décima sexta volta assumindo a liderança, mas Prost deu o troco. Enquanto isso, Senna aproveitou a chuva fina que caía em Suzuka e chegou ao terceiro lugar após superar Berger, o quinto, e Boutsen, o quarto. Na volta vinte o brasileiro tornou-se o vice-líder da prova em virtude do abandono de Ivan Capelli. "Como é que ia pegar o Prost, que tinha pista livre pela frente, com um carro igual?", questionou o brasileiro em entrevista ao final da porfia.
Quando estava na pista, Ivan Capelli fez a melhor volta na décima primeira passagem, mas o repetir ao feito com a Zakspeed no giro seguinte, o alemão Bernd Schneider (que abandonaria a corrida poudo depois devido a uma dor crônica no cotovelo) marcou um tempo quatro segundos mais lento por causa da chuva. Senna e Prost diminuíram o ritmo, mas o brasileiro o fez em escala menor, sendo que, durante as voltas seguintes a diferença entre eles caiu de segundo e meio para alguns décimos de segundo. Ciente da igualdade de equipamento em relação ao rival e dos riscos de correr sobre o asfalto escorregadio, Senna aproveitou a hesitação de Prost em ultrapassar os retardatários Andrea de Cesaris (Rial) e Maurício Gugelmin (March) na chicane, colou no rival, pegou o vácuo e emparelhou com o francês na reta. Neste instante o bicampeão mundial tentou espremer seu antagonista de modo a forçar um recuo, mas Senna manteve-se entre a pista e a área de escape para consumar a ultrapassagem na altura da saída dos boxes quando eram decorridas vinte e oito voltas. Uma manobra tão ousada agradou às 120 mil pessoas no Circuito de Suzuka e também quem assistia pela televisão, mas Senna quase rodou na curva seguinte ao feito.
Já não chovia quando Ayrton Senna tomou a liderança, porém o cuidado fazia-se necessário. No decurso da vigésima quinta volta o britânico Nigel Mansell vinha em décimo segundo quando sua Williams atingiu a Lotus de Nelson Piquet. Ao todo, nove pilotos abandonaram a disputa.
Ayrton Senna, Alain Prost e Thierry Boutsen firmaram-se nas melhores posições, todavia a presença dos retardatários fez cair a diferença entre os carros da McLaren, sobretudo as peripécias de Satoru Nakajima. Eufórico, ele bloqueou os bólidos de Woking por quase uma volta faltando dez giros para o final. Naquela altura, a McLaren informava erroneamente a Senna quanto ao número de voltas para o fim da prova, sinalizando um consumo anormal de combustível, falha prontamente corrigida. Um eventual conta-ataque de Alain Prost caiu por terra quando começou a chover na volta quarenta e cinco.[31] Temendo errar, Ayrton Senna redobrou os cuidados e venceu a corrida treze segundos na frente de Alain Prost em mais uma dobradinha da McLaren, com a Benetton de Thierry Boutsen em terceiro. Mais de um minuto atrás do vencedor, Gerhard Berger (Ferrari), Alessandro Nannini (com a outra Benetton) e Riccardo Patrese (Williams) completaram a zona de pontuação. Em sétimo cruzou a Lotus de Satoru Nakajima, melhor resultado de um piloto japonês em casa até aquele instante.
Em 1963 Jim Clark, piloto da Lotus, estabeleceu o recorde de sete vitórias num mesmo campeonato de Fórmula 1, marca igualada por Alain Prost ao volante da McLaren em 1984 e agora quebrada pelas oito vitórias de Ayrton Senna, mas esta não foi a principal notícia do dia, pois graças ao resultado do Grande Prêmio do Japão, Ayrton Senna conquistou seu primeiro título mundial, o sexto de pilotos brasileiros na Fórmula 1. Ciente de sua conquista, o piloto ergueu os dois braços ao cruzar a linha de chegada, socando o ar em sinal de alegria e esmurrando o próprio capacete como que emulando os tambores da vitória. Visivelmente emocionado, o brasileiro teve seus méritos reconhecidos pelos demais competidores, dos quais Alain Prost foi o mais enfáticoː "Ayrton Senna merece ser o campeão do mundo". Finda a cerimônia de premiação, Ron Dennis levou Ayrton Senna à presença de Soichiro Honda. Reunidos pelo destino, piloto e industrial abraçaram-se efusivamente vivendo um momento cuja importância foi reconhecida pela História.