19 de setembro - dois dias depois de completar mais uma primavera

 

Ricardo Gondin é um teólogo e escritor brasileiro. Há alguns anos li um de seus textos e ele me marcou para sempre. Chama-se "Tempo que foge". Ele compara nossos anos a uma bacia repleta de jabuticabas que, conforme as degustamos, vão se tornando cada vez mais escassas e preciosas. E seu pensamento começa assim: "contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui pra frente do que já vivi até agora".

Sim... Eu terei menos tempo, ou, sendo otimista ao extremo, cheguei à metade do meu tempo de vida, se tiver sorte de viver até os 106 anos... E agora eu ri um pouco... Otimismo exacerbado este meu.

Na verdade, o que ele quer dizer com isto, é que o passar dos anos nos faz valorizar cada vez mais cada ano que vencemos, porque a ideia de que a vida é finita vai se tornando muito mais presente à medida em que alcançamos os degraus da "melhor idade". Então, algumas coisas que eram necessárias na mais tenra idade, deixam de sê-lo, conforme passamos a perceber que não nos preocupamos mais com o que pensam a nosso respeito, e sim com o conceito que formamos a nosso próprio respeito.

Falando por mim, digo que, aos poucos, tenho uma percepção diferente de tudo, inclusive da minha própria existência. Hoje, traço metas pessoais e faço dos meus sonhos propulsores para alcançar cada uma delas. Dedico meu tempo em viver da melhor maneira possível, ao lado de quem amo e vale a pena manter por perto. Há algum tempo tenho me desligado de quem, apesar de eu querer o bem, já não me acresce em nada como ser humano. Elas permanecem nas minhas orações, porém, não no meu convívio pessoal. 

Os anos me mostraram que auto estima e amor próprio são bíblicos, e estão nos Dez Mandamentos: "amai a Deus sobre todas as coisas, e ao próximo como a ti mesmo."

Só podemos dar ao próximo aquilo que nos sobra, mesmo sabendo que amor é um sentimento que, quanto mais distribuímos, mais ele se multiplica. Entretanto, para que ele alcance as pessoas, precisa que nos amemos intimamente acima de tudo.

Não tenho mais tempo para atitudes ou pensamentos que me causem desequilíbrio emocional ou material, preciso cuidar de mim. Já não quero mais ser a salvadora do mundo, me contento em fazer a minha parte, sem esperar ou exigir que todos ao meu redor façam o mesmo. Vivo com intensidade cada momento, bom ou ruim, porque são meus momentos e deles vou guardar apenas o que me ajudará a crescer e evoluir. Serei filtro e não esponja, para não guardar aquilo que me traz sofrimento. 

E faço questão de manter aqueles a quem amo por perto, porque somos eternamente responsáveis por aqueles que cativamos, e eles também são responsáveis por mim, ora pois.

Enfim, quero dizer que sou grata demais pelos meus 53 anos de vida e, embora não saiba quantas jabuticabas ainda existem na minha bacia, pretendo ingeri-las com muito amor, respeito, e cada vez menos juízo... Já tive demais em todos estes anos. 

E quero agradecer a todos que partilharam estes primeiros anos comigo. Alguns já não estão mais aqui fisicamente, porém vivos demais no meu coração; alguns passaram, e sou grata pelo tempo que tivemos juntos; e há também aqueles que permanecem, perto ou longe fisicamente, mas nunca distantes do meu coração. E eu sei que cada um teve uma participação na elaboração de quem eu sou hoje e continuarei a ser. E quero, assim como Gondim, viver com gente humana, muito humana, que ri de seus tropeços e tem consciência de sua mortalidade. Bora rir da nossa existência.

Akasha De Lioncourt
Enviado por Akasha De Lioncourt em 19/09/2024
Código do texto: T8155107
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