Linda homenagem que recebi do poeta Moacir Rodrigues
A MOLDURA (Participação especial: Norma Aparecida)
Ela olha de rabo de olho para a moldura pendurada na parede, uma bela moça no auge da sua juventude, podia ter uns dezoito anos, por aí, faz tanto tempo! Sente saudade dessa época de ouro, era linda, cabelos grandes e bem cuidados. Ainda se acha bonita, o tempo não foi tão cruel com Norma Aparecida, hoje uma mulher madura e cheia de experiências na vida. Sente dificuldade quando precisa se produzir para ir a uma festa ou algum evento importante. Será por conta da idade?
- Acho que não! - pensou Norma. - Alguns podem pensar o contrário, mas o que interessa é o que eu penso. - Finalizou seu raciocínio.
Olha agora fixamente para a moldura, para si própria, ali está o seu retrato. Tanto tempo se passou, a beleza é algo individual, existe um padrão. O retrato é fiel, diferente dos de hoje que sofre filtros, alterações que tiram alguma coisa de real na pessoa. Levanta do sofá e vai até o quarto, se olha no espelho, antes acendendo a luz para se ver melhor.
- É, Norma, você não mudou nada, continua a mesma. Será que estou enganando a mim mesma? - diz isso, em voz alta, com um pouco de nostalgia.
Volta para a sala e senta novamente no sofá, bem mais disposta a observar o seu retrato na moldura. Suspira, sente um prazer imenso, afinal está ali, sozinha, pensando na vida, nos momentos que lhe proporcionaram grandes alegrias. Está feliz sim, não há motivo para pensar diferente. O tempo não apagou muita coisa do seu rosto e nem do seu corpo. Até se acha enxuta, compatível, atraente, quando se produz. Encheu-se de vaidade, coisa de mulher. Imaginou não precisar se produzir para parecer bonita, o que é no dia a dia dar para o gasto. Retorna ao quarto onde esqueceu a luz acesa, se mira no espelho outra vez, aprecia avidamente seu rosto, algumas rugas, o que é natural, mexe com o corpo, observa-o por vários ângulos, confirma que está dentro do que espera e suspira profundamente. Sai do quarto apagando a luz, não será preciso mais tirar alguma duvida, o que viu está bom, dar nota dez para ela.
Desviando o olhar da moldura pensa agora no passado. Imagina assobios, galanteios, se sente atraída, autêntica e dona de si. Aplausos e gritinhos histéricos parece ouvir nessa "passagem" para o passado, lugar onde gostaria de voltar, mas sabe que é humanamente impossível e se conforma. O presente está bom, assim conclui. Tem visto estampadas em revistas de moda lindas mulheres, beleza clichê que serve como chamativo para novos lançamentos de vestimentas femininas. Descobre agora que é uma senhora e que já foi cobrada socialmente não faz muito tempo. Sorri satisfeita. Se liga na moldura, aquele sorriso parece ser dela para ela. Olha para o retrato por mais alguns minutos até voltar para suas atividades rotineiras.
Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 14/08/2024
Reeditado em 14/08/2024
Código do texto: T8128526
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GRATIDÃO PELA LINDA HOMENAGEM
NOBRE AMIGO POETA
Gratidão amigo escritor e poeta
Me vi mesmo neste lindo conto