Luto por um Primo

Era manhã de uma terça-feira, parecia um dia normal. Até que o telefone toca, e recebo uma trágica notícia. Um primo havia sofrido um infarto fulminante, há poucos minutos...

Subitamente o dia ficou cinza e frio, como se até mesmo o sol tivesse ficado triste naquele momento, e permaneceu assim o dia inteiro.

Em questão de segundos já estava no grupo da família. É incrível como notícias ruins se espalham tão rápido.

Foi um choque, a incredulidade toma conta nessas horas, seguida sempre dos mesmos questionamentos.

Na memória, veio logo a tona, todos os nossos momentos, a última vez que conversamos, a última vez que nos vimos, em flashes de lembranças. O adeus é triste e repentino, uma surpresa desagradável.

Por causa dos rumos diferentes que a vida nos deu, fiquei uns cinco anos sem nenhum contato com ele.

E por acaso, quando mudei de estado, fui estudar na cidade dele, a vida nos aproximou novamente. Curiosamente fomos vizinhos, e retomamos o convívio. Durante os três anos que morei em Linhares, via meu primo frequentemente. Ele era um ciclista de final de semana, pedalava muito, sempre me chamou, mas eu nunca fui. Ainda me lembro das mensagens que me mandava do aplicativo Strava, com todo o percurso que havia feito, os menores eram de 20 km.

Durante a semana, ele era professor de português numa escola estadual. Era empenhado em ajudar a comunidade, foi presidente da associação de moradores do bairro BNH por muito tempo. Ao contrário de muitos, nunca se valeu do cargo pra tentar carreira política. Apesar de ter grande influência e militância nas demandas da comunidade, nunca quiz se candidatar, mesmo sempre sendo convidado.

Ele era também, ministro da eucaristia na igreja, foi catequista por muito tempo, e também lecionou ensino religioso na escola.

Nas minhas idas à trabalho na cidade dele, às vezes eu lhe visitava.

Lembro das nossas agradáveis e demoradas conversas. Recentemente, ele tinha se aposentado, vendeu a antiga casa e construiu outra bela casa na mesma rua. Tinha planos de fazer isso há muito tempo, e estava feliz por ter concluído. Me dizia sempre que agora iria comprar uma roça. E ele gostava muito de roça, nascido em área rural , gostava de tirar leite, de catar café, colher e preparar o cacau. Lembro de quando ele lecionava na escola do distrito de Nativo, uma pequena escola rodeada de fazendas, atendia todas as crianças filhos dos produtores.

Nunca pensei que um dia eu iria no enterro dele, percorrer 200km pra prestar as minhas últimas homenagens, o último adeus. Eu estava com passagem comprada pra viajar nesse dia, adiei a passagem pra poder ir me despedir.

Chegando em Linhares, fui tomado pelas lembranças, o cemitério é na mesma rua da faculdade que estudei, no bairro BNH, em que meu primo morava e eu também morei.

Como todo velório de pessoas queridas, as coroas de flores eram muitas. Era uma pessoa muito querida, o choro era generalizado.

A parte mais tocante foi ver a viúva dele, inconsolável. Me deu um abraço apertado e perguntou pelo meu pai.

Mesmo sabendo que a vida acaba, a gente nunca está preparado pra perder alguém querido. Ele e a esposa eram um casal muito unido e apaixonado, ambos professores de escola pública. Tinham uma única filha, que está cursando faculdade em São Paulo.

Ele só tinha 56 anos, cuidava da saúde, inclusive era quem alertava aos irmãos para se cuidarem. Essa foi a lembrança da minha prima, irmã dele.

Pra mim é difícil acreditar e aceitar que o tempo dele acabou... Um dia muito triste na história da família, uma despedida de uma pessoa que uniu a família em todos os momentos.

Seu nome era Antônio Carlos, que Deus o receba em sua glória.

Sua falta será sentida pra sempre.

Vou sentir falta de todas as mensagens de amizade, de todas as nossas conversas, de todos os momentos que passamos em família, de sua presença.

Jamais será esquecido.

Abreu Lima
Enviado por Abreu Lima em 14/08/2024
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