A INDESEJADA MORTE

Prólogo

Esta crônica é uma homenagem póstuma ao amigo de adolescência e colega de curso na Escola SENAI de Campina Grande, PB.

Refiro-me ao recém-desencarnado SEVERINO XAVIER DE SOUZA, mais conhecido por Biliu de Campina.

No ano de 1965 nossa turma, todos adolescentes, era alegre e divertida. Estávamos sempre tagarelando e fazendo troças uns com os outros.

Xavier (o irreverente), George (o cigano), Antônio Raimundo (o cabeleira), Pelé, (o bola sete), Marcos de Seu Silva e Wilson (o doido de Seu Muniz). – (Nota deste Autor).

POEMA DECLAMADO PELO XAVIER

EM UMA ENTREVISTA À TV PARAÍBA.

Observação: "a morte está enganada/eu vou viver depois dela". Foi um mote fornecido aos repentistas nordestinos pelo cearense Raimundo Yasbeck Asfora. No momento da declamação Xavier (Biliu de Campina) deu essa informação à TV Paraíba.

"A morte está enganada, eu vou viver depois dela. Vicejar é minha sina num mundo transcendental.

Passo do ponto final, fazendo o que me fascina. Vou pelo mapa da mina, navegando em barco à vela.

Sem ter medo da trocela (sic), numa letal disparada, a morte está enganada. Eu vou viver depois dela." – (sic).

OBSERVAÇÃO OPORTUNA E NECESSÁRIA: Para dar sentido a sua poesia Xavier se utilizou da licença poética. Ele criou a palavra "trocela", inexistente no nosso idioma pátrio.

A característica básica da licença poética é o fato de o escritor se utilizar do que a norma culta consideraria erro para escrever textos criativos. A licença poética está presente na literatura, música e também nas propagandas.

SINGELA HOMENAGEM AO COLEGA XAVIER

Caros colegas, adolescentes de curso em 1965, na Escola SENAI de Campina Grande, Paraíba:

As visões divergentes, com rumos escolhidos e pessoais, nos tornaram proficientes, mas totalmente desiguais.

A rainha dos meus pesadelos, a morte, faz coleção de crânios. Essa terrível certeza de que mais cedo ou tarde me despedirei da família, para fazer parte desse tenebrosa coleção de ossos, me apavora. Dá medo pensar na indesejada morte.

Feliz é o mortal que tem a oportunidade de se despedir de alguém, pedir perdão, antes de embarcar no trem flamejante, símbolo fugaz da vida que se transforma em um corpo frio pela inexorável, silenciosa e fria morte.

O transporte é seguro e confortável, todos estão deitados, uns com rostos inchados, olhos vítreos, lacrimejantes, sem expressão alguma, outros com olhos fechados e corpos escanifrados, mas todos apavorados com a malfadada e não esperada morte.

Onde está meu chapéu, meu celular importado e carteira de fino couro com euros? Onde está o meu Rolex? Posso beber pelo menos um gole de meu uísque Old Par 12 anos ou de vinho Cabernet tinto seco? Ah! gostaria de comer uma lagosta grelhada... Posso? – Tenta, debalde, protelar seu embarque o passageiro atormentado e surpreendido com a chegada da morte.

"Não há tempo, isso agora não tem valor algum. Precisamos partir porque amanhã faremos outra entrega para aquele que presidirá o juízo final." – Diz a voz lúgubre, fria, com hálito podre, a terrível e cruel morte.

CONCLUSÃO

Enfim, contemplamos o mistério da morte, com reverência e curiosidade. Ela nos une, independente de raça, crença ou origem. Somos todos viajantes temporários neste vasto cosmos, e a morte é nossa companheira silenciosa, esperando pacientemente no fim da estrada que imagino sem fim. Essa é a minha crença e sorte.

Enfrentar a morte com resignação, aceitando-a como parte intrínseca da vida é dever de todos nós. Afinal, é na escuridão que as estrelas brilham mais intensamente, até mais que a nigérrima e impiedosa morte.