EM OFERTÓRIO...CALE-SE...UMA POESIA EM HOMENAGEM A CHICO BUARQUE...🍷🍷🍷🍷🍷
OFERTÓRIO.
Senhor,
Neste momento sagrado
Não tenho nada para oferecer-te,
A não ser estas mãos vazias.
Mãos calejadas que plantam,
Colhem e amassam o pão tão minguado
Na mesa de todos os dias.
Eu te ofereço a face
Coberta de suor e lágrimas;
As chagas abertas que nunca cicatrizam,
Meu corpo ensanguentado
Pelo peso da cruz que carrego,
Pelo trabalho escravo da vida inteira,
Mas tão escassa a colheita.
Trago o grito sufocado
No fundo da minha alma.
Em vão minhas preces se fazem
Em resignado silêncio.
A liberdade cerceada
Poe este "cale-se" amargo
Que transborda de dor e sofrimento.
Senhor,
Tenho fome e sede.
Convida-me para a tua ceia,
Alimenta meu corpo
Com o pão que fortifica,
Aviva meu espírito
Com o sangue das suas chagas.
Devolve-me a esperança
Com o poder de tuas palavras.
Poesia escrita pela minha irmã:
MARI WATANABE aqui do RL.
(Direitos Autorais Reservados).
🍷 🍷 🍷 🍷 🍷 🍷 🍷 🍷 🍷 🍷 🍷 🍷 🍷 🍷
Minha querida irmã, esta poesia OFERTÓRIO retrata muito bem o sofrimento de um povo oprimido que labuta muito para ganhar o pão de cada dia. Sim, as mãos vazias estão "calejadas", são anos de luta, de suor e de resiliência na batalha diária do trabalhador...
As chagas abertas, o coração ferido de Jesus, o seu sangue ainda jorra nesse povo oprimido que afoga todo o seu sofrimento, pois suas vozes ainda continuam "embargadas", trazem o grito sufocado, a sua liberdade cerceada.
Você me disse que ao escrever a poesia veio a palavra "cale-se" inspirada na música "CÁLICE " de Chico Buarque e que esses versos são uma homenagem aos trabalhadores oprimidos, sem direito à voz em uma sociedade capitalista.
Tomo então a liberdade de homenagear este grande músico, Chico Buarque de Holanda que tão bem retratou este cenário de opressão, do trabalhador sufocado em meio a repressão imposta pela ditadura militar.
Para driblar a censura Chico Buarque usou a expressão "Cálice " na sua música que foi censurada e se tornou um símbolo de resistência ao regime da época.
Então o "cale-se" da sua poesia chega ao "Cálice " de Chico Buarque metaforizando o "vinho tinto de sangue" , relembrando o momento em que Jesus escolheu o vinho, reuniu os seus discípulos e celebrou o seu sacrifício na Cruz.
Ao se referir ao Pai afastar o cálice, a música pode sugerir um pedido de socorro para afastar tanta violência, tanta opressão, tantos extermínios impostos pelo regime vigente na época , e devolver assim ao Povo a salvação, a união, a reconciliação e a paz tão almejada.
As mãos calejadas e o trabalho escravo da vida inteira como estão nos seus versos, lembra a outra música de Chico Buarque, "CONSTRUÇÃO ", onde o cantor faz uma crítica social e política profunda aos trabalhadores que são submetidos a péssimas condições de trabalho e uma rotina exaustante no seu dia a dia.
Ainda hoje, passado mais de cinquenta anos da criação da música, apesar dos avanços, dos ganhos nas relações trabalhistas, ainda presenciamos denúncias, violação de direitos, exploração, desumanização e denúncia análogo às condições de trabalho escravo.
Minha querida irmã, como você diz, é preciso "dar voz" ao sofrimento do trabalhador, ninguém deveria se sujeitar a trabalhar sem as condições mínimas de segurança, proteção e com todos os seus direitos assegurados; junto a isso têm a sujeição e violência psicológica, esse assédio de todos os tipos que fere e deixa marcas profundas.
E é muito triste perceber que infelizmente a sociedade hoje ainda se "CALA" diante de tantas perplexidades, acaba naturalizando muitos tipos de violências, tanto a social, do trabalho, a familiar, a urbana, a racial, os preconceitos,etc...; em meio a essas questões aumenta-se a violência psicológica utilizada em todas as práticas; muitas vezes ela chega de forma velada, tirando a dignidade, a auto estima, minando as forças das pessoas envolvidas.
🍷🍷🍷🍷🍷🍷🍷🍷🍷🍷🍷🍷🍷🍷🍷🍷
Principais músicas de Chico Buarque.
- A Banda 1966.
- Deus lhe pague 1971.
- Meu caro amigo 1976.
- Construção 1971.
- Cálice 1978.
- Apesar de você 1978.
- Geni e o Zepelim 1979.
- Cotidiano 1971.
- João e Maria 1991.
- Pedaço de mim 1978.
Chico Buarque é cantor, compositor, violinista, dramaturgo e escritor.
Começou a se destacar em 1966 com a música A Banda.
Exilou-se na Itália em 1969 devido ao regime militar; retornou em 1970, um dos artistas mais ativos na crítica política e na luta pela democratização no País.
Em 1971 foi lançado Construção, sendo considerada pela crítica um dos seus melhores trabalhos.
Vencedor de 03 prêmios Jabutis: em 1992 com Estorvo, Budapeste lançado em 2004 e Leite Derramado em 2010.
Em 2019 recebeu o Prêmio Camões, o principal Troféu Literário da Língua Portuguesa, pelo conjunto da obra.
Ouçam a música: CÁLICE.
https://youtu.be/fFvt1mfYKoA?
si=C4Z021UNiiAct9Bl