Tributo ao Distrito de São José dos Salgados
Prof. Arnaldo de Souza Ribeiro
“Quando o amor é verdadeiro, a distância não separa, o tempo não enfraquece e ninguém substitui”. Anônimo.
Era final da década de 1940, quando a jovem Maria Madalena de Souza, com seus sonhos e determinação, deixou seus familiares, amigos e o então Povoado de São José dos Salgados e mudou-se para Itaúna. Mas só o fez depois de visitar, aconselhar-se e pedir proteção a Deus e aos Santos e Santas que habitam a Igreja de São José, templo que, durante toda a sua vida, sempre que lhe era possível, realizava suas orações e trazia-lhe boas, doces e saudosas lembranças. Ali, recebera o sacramento do Batismo e, com o tempo, aliado aos ensinamentos religiosos, tornara-se uma autêntica e fervorosa cristã.
Fisicamente deixara o então Povoado de São José dos Salgados, mas o amor, o afeto, a saudade e o pensamento sempre estiveram presentes e, nem o poderoso tempo, que muitas vezes consegue modificar, corrigir ou alterar a vida das pessoas, não conseguira fazê-la esquecer ou afastá-la do lugar em que nascera, em que fora batizada e onde vivera sua infância e adolescência.
Fui testemunha vital daquele amor. Ainda criança, ouvia atentamente o relato de suas histórias, de suas lembranças e da saudade, do lugar e das pessoas.
No mês de julho, férias escolares, quase todos os anos, o nosso destino era o já Distrito de São José dos Salgados. Éramos carinhosamente recebidos por suas irmãs e minhas tias: Luiza Alves da Silva Arão, que morava na hoje Rua Quirino Quadros, n. 244, e Maria Margarida Dias, que residia em um lugar denominado Mamoneiras. Junto aos demais colegas de idades próximas e primos, com destaque para o primo José Luiz da Silva e meu irmão Oliveira de Souza Ribeiro, protagonizávamos as maiores peraltices, o que, às vezes, além da repreensão verbal, éramos conduzidos para o “cárcere privado”, em um dos quartos, como forma de castigo e medida preventiva a outras peraltices.
Passaram-se os anos e, no inicio da década de 1980, com a aposentadoria de minha irmã Ana de Souza Ribeiro, para alegria de minha mãe, adquirimos um pequeno terreno, onde construímos uma pequena casa e, enquanto vivas, constituíram uma verdadeira ponte aérea com “voos” frequentes entre Itaúna e São José dos Salgados. Algumas vezes serviam-se de ônibus, muitas outras eu as levava, assim também compartilhava da alegria e do reencontro com parentes e amigos.
E quando passávamos ao lado da Igreja de São José, sempre ouvia de minha mãe: “Nesta Igreja, fui batizada”. “Aqui também assisti a missas e festas religiosas, fiz orações em companhia de meus pais, irmãos, parentes e amigos”. Sabedor dessas lembranças, sempre parava o carro para que ela pudesse contemplar aquele Sagrado Templo, fazer suas orações e, quando aberto, íamos ao seu interior.
Já falecidas minha mãe e minha irmã mantenho a pequena casa, as visitas e o mesmo respeito e admiração pela Igreja de São José, pelos meus parentes e amigos que vivem em São José dos Salgados, terra por direito de minha mãe e minha por adoção, afeição e gratidão.
Todas as vezes que passo em frente à Igreja de São José, reduzo a velocidade, contemplo a sua beleza e vem-me a lembrança e a saudade de minha mãe. E a frase que dela sempre ouvia: “Nesta Igreja fui batizada...”
Motivado por tudo que vi, ouvi e dela aprendi, se estou só, penso; se acompanhado digo: Nesta Igreja minha mãe foi batizada.
Neste momento em que se aproximam as festividades de comemorações dos setenta anos de criação do Distrito de São José dos Salgados, pela lei estadual n. 1039, de 12.12.1953, quero manifestar os mais sinceros votos de felicidades a todas as cidadãs e a todos os cidadãos salgadenses. E dizer-lhes do orgulho de ser filho de uma cidadã salgadense e de também o ser, por adoção, afeição e gratidão, um cidadão salgadense.
Rogo ao bondoso São José, que proteja e ilumine a todas as cidadãs e a todos os cidadãos salgadenses!
1. Publicado em Edição Especial do Jornal “Boca da Mata” no mês de dezembro de 2023, em homenagem aos setenta anos da criação do Distrito de São José dos Salgados.
2. Publicado na Antologia II – AMCLAM E CONVIDADOS - 2024, pag. 52, organizada pelo Acadêmico Carlos Furtado, São Luís – MA.
Arnaldo de Souza Ribeiro: é Pós-doutor pela – ULPGC, Doutor pela UNIMES, Mestre pela UNIFRAN. Professor do curso de direito da UIT, foi seu coordenador por nove anos. Membro da Academia Cordisburguense de Letras Guimarães Rosa – ACLGR, da Academia Itaunense de Letras – AILE e Presidente da Academia Maçônica de Ciências e Letras de Itaúna – AMACLI. Acadêmico Correspondente Nacional da Academia Formiguense de Letras – AFL. Membro da Academia Hispano-Brasileña de Ciência, Letras y Artes AHBLA, do Instituto de Direito de Língua Portuguesa – IDILP e da Comunidade de Juristas de Língua Portuguesa – CJLP, Lisboa.