ESTRADAS DE MINAS

ESTRADAS DE MINAS

Amélia Luz

Na estrada estranha

Estreita de Minas,

Deixei pegadas vivas...

Encontrei a infância

Perdida entre montes

E anos de segredos...

Virei cambalhotas

Pulei amarelinha

Fui fada e rainha

Andei de perna-de-pau

No espaço amplo do meu quintal!

Na estrada estranha

Estreita de Minas

Fiz bolhas de sabão ao vento

Brinquei de pique-esconde

Vivi contos de terror

Em castelos de assombração!

Soltei pipas coloridas

Joguei peteca, brinquei de boneca

Toquei flauta de bambu

Em tardes ensolaradas...

Na estrada estranha

Estreita de Minas

De retalhos fiz bruxa de pano

Pisei descalça em poça de lama

Tive pesadelo, molhei a cama,

Roubei frutas no pomar vizinho

Saí correndo pelo caminho

Fumei cigarros de cabelo de milho

Viajei na janela do trem, sobre trilhos.

Ganhei presentes de Papai Noel

Fiz esquadras de barquinhos de papel

A descerem soltos, levados,

Pela força das enxurradas...

Na estrada estranha

Estreita de Minas

Tive batata de bicho-de-pé

Peguei piolho, fiz estripulias,

Acompanhei até palhaço e folia.

Tomei tombo de cavalo

De bicicleta ralei os joelhos

Rebelde não ouvia conselhos...

Em folguedos, cantei cirandas de roda,

Ao lado da meninada

No pátio alegre da minha escola...

Pintei os lábios de carmim,

Vaidosa, olhei-me no espelho,

Menina-moça, enfim!

Na estrada estranha

Estreita de Minas

Vestida de organdi branco

Encontrei o amor-primeiro

Saboreei o primeiro beijo

Desmanchei-me em emoção

Quando trêmula, no portão,

Entreguei meu coração!

Na estrada estranha

Estreita de Minas

A paixão me domina

Tudo, tudo me fascina,

Na fantasia da poesia,

Pois lá deixei com alegria

As pegadas da minha história

Contada em doce memória,

Escrita à luz tosca do lampião

Na paz que hoje ainda me toma,

Menina... Menina!...

Amélia Luz
Enviado por Amélia Luz em 08/05/2024
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