"Eu não quero ser nada; eu quero morrer e ir para o Céu."

Com a propagação das Aparições de Fátima, em Portugal, os Pastorinhos passaram a ser constantemente procurados e assediados por peregrinos vindos de todas as partes para vê-los.

Todos os três procuravam se resguardar dessa fama repentina, mas, sobretudo, era São Francisco Marto quem mais fugia da multidão e de curiosos em geral.

Todavia, em dada ocasião, não teve como escapar, e duas senhoras perguntaram-lhe sobre a carreira que ele gostaria de seguir quando crescesse:

– “O que você quer ser quando crescer? Carpinteiro?”

Ao que ele respondeu:

“- Não. Eu não quero ser carpinteiro.”

“- Queres ser soldado?”

“- Não, madame.”

“- Não gostaria de ser médico?”

“- Também não.”

“Ah, eu sei muito bem o que gostarias de ser… Gostarias de ser padre! Pois vês Nossa Senhora... Não é verdade?”

─ “Não, eu não quero ser padre.”

─ “Então, o que queres ser?”

─ “Eu não quero ser nada! Eu quero morrer e ir para o Céu.”

Fica evidente a perfeita conformidade com a vontade de Deus na alma desse jovem santo. Segundo Santo Afonso de Ligório, essa uniformidade do nosso querer com o querer divino constitui o caminho essencial para a santidade.

Mas como esse admirável santo conseguiu tão estreita união até o ponto de desprezar a si mesmo? Claro que não existe outra explicação senão Nossa Senhora, a mãe da misericórdia. Aí está expresso o perfeito exemplo de tudo fazer por Maria, com Maria e em Maria.

A fisionomia de Francisco, registrada nas poucas fotos tiradas dele, deixa claro que, apesar de jovem, ele não estava neste mundo para brincar, dar gargalhadas, levar uma vida medíocre, refém dos prazeres efêmeros e vaidades. Não, ele passou por nós para salvar almas através do sacrifício. Dessa forma, ele apresenta um modo de viver em flagrante contradição àquele modo hollywoodiano de viver - à cata de prazeres, cultivando em si um estado de espírito imoral e afeminado para obter migalhas de atenção e afeto das criaturas, colocando-se como o centro do universo para, por fim, alcançar um imaginário Final Feliz, que seria, no fundo, morrer sem a Graça divina.

Infelizmente, esse ideal infectou largamente a atual geração. E mesmo não poucos católicos assim se iludem e tentam conciliar os apegos carnais com a verdadeira devoção. Contudo, o exemplo dado pelo pastorzinho de Fátima mostra que qualquer um que queira agradar Nossa Senhora deve ser profundamente sério, pois a vida é séria: há um Céu para ganhar e um inferno a se evitar. Deus, que é infinitamente justo e sábio, leva infinitamente a sério a nossa falta de seriedade, pois não há palavra ou dito leviano – ou pensamento algum consentido pela vontade – que a Divina Justiça deixe sem punir ou recompensar. Esta é a realidade que deve estar continuamente sob os nossos olhos para que não percamos de vista a eterna recompensa.

Aliada a essa virtude magnânima, podemos também destacar o estado de espírito profundamente contemplativo reinante em sua alma. Para agradar a Deus, única alegria de Francisco, deu-se todo à Virgem, e depois de ter dado tudo a ela, deu seus poucos anos de vida para consolar o Sagrado Coração de Jesus e ofereceu cada contrariedade sofrida pela conversão dos pecadores.

Como, no entanto, alcançar para esses miseráveis pecadores, que nada têm a ganhar a não ser o Inferno, a conversão? Pelo sacrifício! Mas um sacrifício amoroso, tal como foi amoroso o sacrifício de Jesus no início de sua Paixão ao beijar a Cruz.

O verdadeiro devoto de Maria Santíssima, por insosso, prepotente e ligeiro de coração que seja no início, adquire viva humildade, amadurece como pessoa e adquire profundeza nas coisas de Deus, e isso em prazo curtíssimo. A Virgem Maria nunca pára de realizar milagres em quem a leva muito a sério.

Peçamos, portanto, a essa boa Mãe que nos faça, a exemplo deste admirabilíssimo santo, São Francisco Marto, verdadeiros devotos seus para que tenhamos as virtudes necessárias para fugir das tentações e ocasiões próximas de pecado, amarmos a Deus em primeiro lugar e ajudarmos aos outros a levarem vidas mais conformes aos ditames da razão iluminada pelo Favor Divino.

E não nos esqueçamos, jamais, das palavras de São Bernardo, “Se os ventos das tentações se levanta, se os escolhos das tribulações se interpõe em teu caminho, olha para a estrela, invoca Maria. Se és sacudido pelas ondas do orgulho, da ambição, da maledicência, da inveja, olha a estrela, invoca Maria. Se a cólera, a avareza, os desejos impuros sacodem a frágil embarcação de tua alma, levanta os olhos para Maria. Se, perturbado pela lembrança da enormidade de teus crimes, confuso à vista das torpezas de tua consciência, aterrorizado pela medo do Juízo, começas a te deixar arrastar pelo turbilhão da tristeza, a despenhar no abismo do desespero, pensa em Maria. Nos perigos, nas angústias, nas dúvidas, pensa em Maria, invoca Maria. Que seu nome nunca se afaste de teus lábios, jamais abandone teu coração; e para alcançar o socorro de sua intercessão, não negligencies os exemplos de sua vida. Seguindo-a, não te perderás; suplicando a ela, não ficarás em desespero; pensando nela, evitarás todos os pecados. Se ela te sustenta, não cairás. Se ela te protege, nada tens a temer. Se Ela te conduz, não te cansarás. Se Ela te for favorável, alcançarás o fim. E assim verificarás, por tua própria experiência, com quanta razão foi dito: ‘E o nome da Virgem era Maria’".

*A memória litúrgica de São Francisco Marto é comemorada juntamente com a de sua irmã, Santa Jacinta Marto, todo dia 20 de fevereiro.

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Inspirado no artigo "São Francisco de Fátima, grande modelo de seriedade", publicado em 23 de abril de 2019, no site "Lepanto - Frente Universitária & Estudantil".

Rafael Aparecido
Enviado por Rafael Aparecido em 06/05/2024
Reeditado em 06/05/2024
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