Ção Lourenço
Ção Lourenço , assim com dois cedilhas no nome, cortava um dobrado na fábrica de tecidos para assegurar o seu sustento e o da prole, que era pouca, mas não era mole. Vinda da rua do Alto, assava na porta de nossa casa depois que nosso beco sem saída abriu, encurtando caminho para dar conta da rotina que lhe impusera o destino. E bendizia o minguado ganho.
Nas adorações vespertinas da matriz de Nossinhora do Pilar era bem frequente. E vibrante, malgrado não fizesse parte do coro. E é a sua voz que se destaca em minhas recordações sonoras daqueles anos sessenta, também encantado com aqueles rituais elaborados que deviam agradar mais aos olhos e ouvidos do Altíssimo.
E chamava atenção sobretudo a interpretação vocal que Ção fazia, adaptando o ...dogma de fé em gosma de fé, e o na patena o pão para na paseira o pão..., sem contudo jamais se desviar do fervor.
Ção se foi com as décadas inexoráveis do relógio dos tempos, mas deixou sua lembrança de fé e pureza mesmo na maior dureza. E o seu filho Tadeu, talentoso rapaz que mesmo diante do frequente aquijaz, murros em ponta de faca deu, mas jamais esmoreceu....