BREVES DIAS
Mocidade, eis que te avisto ainda,
por entre os dedos, a se esvair!
Não me negues, nesta quase noite finda,
mais uns raios de sol, no porvir.
Parcos fios distingo no frágil novelo
dos meus dias, que estão a decair.
Não quero ouvir mais esta penosa voz,
que me leva a sentir dor lancinante.
É ruído que, a mim, se afigura atroz.
Dia e noite, se impõe cruciante.
Atrás de mim, implacável, avança.
Impiedoso, acena-me, o algoz.
Mocidade, ouve este vento impetuoso
que me invade, levando-me consigo!
E nas cordas, leve som entoa, ditoso.
N'amplidão, faz ecoar o sonho amigo.
Já o vejo, nas asas do condor portentoso,
no afã de obter mais vigor e alento.
Não me importa que agora me importunes,
sombria voz, que me queres levar!
Os astros me acendem vivos lumes.
Sou como borboleta suave a voar,
ou a noite com a clara luz dos vaga-lumes.
Com asas douradas, posso o futuro, alcançar.
Mocidade, as notas mais lindas guardo:
as que jamais sonhei, no instrumento, tanger.
Cantará, para sua amante, o louco bardo.
Ao som das cordas, não ouvirei o lamento ranger.
Ouso viver a paixão mais ardente.
E, apenas à doce amante, me render.
Voz tão sombria, não venhas me chamar!
Almejo, à sombra fresca da palmeira, colher
vivos beijos de fogo. Há tanto ainda para amar!
Deixe-me, ao menos, por ora, escolher
os mais doces aromas e, seus abraços, clamar.
É muito cedo para que abandone o paraíso!
Mocidade, venha hoje mesmo buscar-me!
Minh'alma, por boiar no lago virgem, anseia.
Tem douradas plumas, como um cisne.
No casto seio da amante, que eu leia
ternas palavras, no seu colo inerme.
Sem temer o amor e sua teia.
Terrível voz, se tiver mesmo que contigo ir,
que me tires docemente, da alva amante dos meus sonhos.
Sinto a luz, aos poucos, se extinguir.
Deixa-me ir, como leve brisa, de semblante risonho.
Adeus, glorioso amor dos breves dias meus!
Toma-me a mão e segura-me entre os dedos teus!
Revisora textual, Consultora literária, Membro da Academia Virtual de Poetas da Língua Portuguesa (AVPLP) - Acadêmica Titular do Brasil e de Portugal; Membro efetivo da U.A.V.I (União de Autores Virtuais Independentes); Acadêmica Imortal da Academia Mundial de Cultura e Literatura (AMCL), Imortal Fundadora da Confraria Internacional de Literatura e Artes (CILA) e Acadêmica da Academia Biblioteca Mundial de Letras y Poesía (ABMLP)
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Inspirado no poema "Mocidade e morte", numa homenagem ao poeta Antônio Frederico de Castro Alves, por ocasião do seu aniversário de nascimento (14/03/1847 - 177 anos)