Partir e aportar
(pequena homenagem à minha cidade natal)
Ao mudar-me a São José,
vindo de Paranaguá,
trouxe muita esperança e fé
que tanto cultivei lá.
Do Itiberê (o café)
tenho comigo a fragrância
guardada por uma infância
de guapê colhido no pé.
Eis que no Itiberê (rio)
permanecíamos a pescar
todas as tardes, e ao lar
regressávamos com certo frio.
Conhecia toda a cidade
ajudando o pai (falecido)
a consertar, com felicidade,
máquinas de escrever - quem há de
lembrar desses tempos idos?
Mecanógrafo meu pai era
e debaixo de chuva ou de sol
só parávamos com o por do sol
contentes com o que o dia nos dera.
Na Praça dos Pescadores
cansei de brincar com os irmãos
e os primos contadores
de histórias de assombração
- e ao girarmos os balanços
nós não tínhamos medo não.
Lembro também, suspirando,
da Igreja do Rocio
em que um irmão (que me viu
nascer e engatinhando)
casou-se e um dia partiu
da minha vida, que sentiu
a saudade ir aumentando.
Eis que o tempo de escola
era a maior diversão
porque além de jogar bola
eu amava fazer a lição.
Nunca fui melhor aluno
nem daqueles fora do prumo
e eu lembro com emoção
que todas as professoras
foram grandes lutadoras
que apostaram na educação
minha e de meus amigos
e assim trago hoje comigo
todo mundo no coração.
Eis que, pré-adolescente,
trabalhei como office-boy
na parte administrativa
do Porto, e hoje me dói
ter trabalhado somente
um ou dois anos da vida
com gente tão pró-ativa!
Há anos vivo distante
da querida Paranaguá
mas não a esqueço um instante
desde que vim para cá
e espero que, um dia, bastantes
amigos eu possa encontrar
quando voltar como visitante
nessas idas e vindas itinerantes
entre os mares de lá e de cá.
Das minhas várias andanças
tenho muito que contar
pois que a memória se lança
a lembrar e a suspirar
por cada detalhe e lembrança
que me ponho a resgatar.