Memorial para Aragón Guerrero
Em memória do nosso querido Aragón Guerrero, recordo com saudade o espanhol de temperamento misturado ao sangue do brasileiro, aquele que carregava séculos de dominação moura e o sal da Andaluzia em suas veias.
Saudades daquele poeta de espírito ativo e altivo, que compunha canções, letras e melodias, sempre ciente de sua singularidade, que o levava a seguir, mesmo em companhia, muitas vezes sozinho.
Saudades do homem de pensamento forte e convicto, que, apesar de não ter religiões, possuía fé; que não se vinculava a partidos, mas era guiado por uma filosofia robusta. Ele nunca ficou alheio ou em cima do muro, mas tinha posições firmes que alimentavam o sonho de permanecer acordado em um mundo de concentrações nazistas.
Saudades do homem que abrigava a família, a esposa, os filhos, os animais e alguns bons amigos. Saudades do homem sensível, que se encantava com o perfume das flores, os rios, as montanhas, o planalto e até o oceano.
Saudades do homem que amava girassóis, que via no amarelo a cor da luz, e que também se apaixonava pela simplicidade das margaridas, as singelas flores do campo.
Saudades do poeta hispano-brasileiro que se foi tão cedo, mas com quem tive a sorte de compartilhar ricas conversas e uma teia de pensamentos poéticos, críticos e filosóficos.
Aragón Guerrero, que você encontre a infinita paz, meu bom e estimado amigo.
Vês, meu querido amigo?
Como vês, não te esqueci. O convívio é alimento, é o ponto de equilíbrio. Mas, amigo, quem disse que é preciso estar presente para não esquecer? Talvez digam que todos os umbigos são iguais, mas não, e te digo: a mão tateia, atravessa os escuros, chega além dos umbrais. Cala a fala, fecha a gaveta. Morto cala? Não, meu amigo. Mesmo sem boca, um bem querer se diz pra sempre.
Até nunca, jamais nunca mais... Nos veremos um dia.
Um beijo, com imensa saudade deste tão querido amigo: ARAGÓN GUERRERO – um poeta, um amigo que aprendi a admirar e que sinto uma falta imensa.