Vinicius de Moraes: 110 anos do poeta são celebrados por neta em disco com arranjo de João Donato
Há exatamente 110 anos, em 19 de outubro de 1913, nascia no Rio de Janeiro o poeta Vinícius de Moraes. Dizem que foi um menino cabeçudo, meio esquisito e tímido, o que não o impediu de, homem feito, casar-se nove vezes e viver outros tantos casos de amor. Aliás, de amor não, mais precisamente de paixão. Paixão! Esse era o sentimento que Vinícius encarnava e desempenhava como ninguém. Precisamente, o jornalista José Castello batizou de “O Poeta da Paixão” a biografia que escreveu do autor do “Soneto de Fidelidade”,
Vinícius de Moraes, o poeta da bossa nova, aquele escandaloso movimento de vanguarda que subverteu a forma de fazer e sentir o samba. Nas proximidades do estádio Mané Garrincha, as proximidades entre o soneto “O anjo das pernas tortas” e o poema-dança-visual de Décio Pignatari que também joga com as letras para fazer do
G uma inicial, do
O uma bola e do
L uma meta.
Confluências de um Brasil cegamente apaixonado. “E por falar em saudade, onde anda você?”, quem ousaria iniciar uma letra de música assim antes do autor de “Chega de Saudade”? Hoje, quando ou se fingem frívolas paixões na redes ou se aconselham manter-se longe das verdadeiras paixões, por comodismo e covardia, são urgentes as palavras do nosso amigo: “Quem já passou por essa vida e não viveu / Pode ser mais, mas sabe menos do que eu / Porque a vida só se dá a quem se deu / A quem amou, a quem chorou, a quem sofreu // Quem nunca curtiu uma paixão, nunca vai ser nada não”.
Paradoxalmente, Vina buscava também, a cada novo relacionamento, viver “a calma no seio da paixão”. Por isso, quando ouço em “Se Todos Fossem Iguais a Você” o verso que diz “a esperança divina de amar em paz”, opero mentalmente uma alteração de natureza formal que muda pouco, mas muda tudo: “a esperança de Vina, de amar em paz”. Dele para ele mesmo. E para todos nós. Esperança, o sentimento que, segundo Vinícius de Moraes, era o mais bonito. Saravá!