Ao Aedo

Não é fácil acordar palavras. Fazê-las abandonar o calor da alma. Tão bom o sonolentar dourado, a alma em lassidão... Um ninho doce e quente, um cobertor de sonhos... é até um crime largar. Mas, o que fazer com um telhado de telhas de barro, um gato que espera, tantos ramalhetes de flores entregues nas primeiras horas da manhã? Folhear a alma e procurar encontrar um poema que faça jus às primeiras páginas das janelas abertas da vida. Palavras que garlem o céu espalhando completudes, luz e amor. E... que se alcem em novos milagres de descobertas, descobertas de si mesmo e do outro que vive em nós...

Na fala do ensejo

na ânsia das letras

por maior anelo

não pode enunciar.

Dizer a emoção

àquele que sabe,

podia vogar.

E prende a voz

tornando-se algoz

em estertor atroz

de dizer incoerente.

E colhe o terror

de águia melindra

que sem arribar

não fende mais asas,

não lumina lugar.

Mas fala o ditame

em clamor de alentar:

- Aedo tu és!

Te ergue aguerrida,

busca com afã...

Não estás sozinha.

Compõe a poesia,

conquista tua lume.

E sente a dor

que brota lugente

do ato provir

no átrio afanoso

do desabrochar

constante da rima.

E nasce loquaz

a poesia, o amor -

vibrante negaça -

estonteante esplendor.

Dedicado ao poeta José Kappel

Querido José.

Obrigada por tanto que me ensinou, ensinas.

Continuo tua eterna aprendiz!

Sempre aos pés de tua escrivaninha.

Beijos.

Se cuida.

Fica bem.

Maria.