PRESENTE


No princípio Deus era o verbo e Ele deu a luz a Henriqueta, Lúcia, Soraia e Ana Paula. Passou a primeira era, e estas a deram a outras, em outras eras, que depois a deram em era posterior a Roseli, Maria José e outras. Novas eras vieram e fez-se a luz por Olga, Edson, Valdemar, outros e outras e, em era outras ainda, a luz se fez por Biava, Lurdete, Eliane, Tânia, Carlos, Noêmia, Mussoi, Thyrza, Brandão, Licao, Ennes, Pedro, Elba, Walesca, Rangel, outros e outras, que deram a luz, em era subsequente, a José Ernesto, Zilma, Rosângela, Weber, Alckmar, Salma, Tânia, Jaçanã, Pedro, Eleonora, Meta, Werner, Marcus, Stephan, Cássio, Aparecida, Rosvitha, Ina, Gilvan, outros e outras, os quais a deram atualmente a Agripa, que a compartilha comigo e tantos outros e outras com generosa humanidade.

 

Interagir com todos e todas possibilita(tou)-me ser mais humano e, o que não é a mesma coisa, mas igualmente importante, ser menos máquina e artificial. Foram todos vocês – quebremos a quarta parede – que possibilitaram a mim e a tantos dos meus colegas aspirar mais sonhos e menos medo, mais cometas e constelações e menos buracos negros, mais velocidade da luz e menos água parada no fundo do poço.

 

Foram vocês, veja-se bem, que me reforçaram a necessidade espiritual, visceral, elemental de ler cada vez mais, e outra paixão que despertou em mim quando ainda pequeno: escrever, ser um escritor. Cada livro meu tem muito de vocês no âmago do que eu melhor possa oferecer em meus escritos.

 

Na minha condição de errante passei por duas graduações antes de me formar bacharel em Letras, nesse meio tempo minhas duas irmãs seguiram o mesmo sonho de todos e todas vocês: ser professoras... Prescila tornou-se professora do Ensino Infantil, depois foi a vez de Patrícia, também professora do Ensino Infantil, e de crianças especiais. E bem sabemos que para um(a) professor(a) cada aluno(a) é singularmente especial.

 

A paixão pela leitura e pela escrita me levou à paixão pelo ofício de revisar textos, e a formação docente de minhas irmãs, que dizem em parte se dever ao meu exemplo de irmão estudioso, inspirou-me também a querer ser mais um professor na família, mesmo porque confesso que amo repassar, trocar, compartilhar, dar e receber conhecimento, ensinar e aprender com as pessoas, tudo isso me estimula a querer repassar o bastão de luz a outros e outras nessa corrida de revezamento em que o tempo urge para nos revezarmos contra questões de opressor versus oprimido, contra o analfabetismo funcional, contra a hipocrisia, o medo, a ignorância, o ódio e tantos outros dissabores que atingem nossas salas de aula, nosso comércio, nossa indústria, nossas casas, nossas relações, nossa sociedade, nosso país, enfim: é muito triste, mas às vésperas de comemorar o dia de vocês eu li manchete dizendo que três quartos dos jovens brasileiros de 18 a 24 anos não cursam ensino superior no país.

 

Ainda assim, a luta de vocês não está perdida, e em seu dia eu me arrisco nestas linhas para dizer, ou melhor, escrever, ainda que muito brevemente, este pequeno relato confessando tamanha importância de vocês, queridos professores e professoras, em minha vida: não fosse vocês, eu poderia neste momento estar roubando, matando, brigando, mas não, estou escrevendo, tenho 43 anos e até hoje me realizo muito de estar todos os dias trabalhando e estudando, buscando ser alguém sempre melhor.

 

Meus queridos e minhas queridas, obrigado por agirem com tamanha humanidade e disciplina sempre que preciso para comigo e meus inúmeros e minhas incontáveis colegas ao longo de nossas vidas, com o objetivo maior de levar cidadania e condições melhores de vida a todos nós. Parabéns pelo seu dia hoje e sempre, e que a sociedade consiga devolver a vocês pelo menos um pouquinho de tamanhas mudanças que vocês sempre proporcionam a cada estudante que passa por seus olhares. Hoje a lista de chamada está guardada, mas quero ser o primeiro a responder “presente” quando me perguntarem ao longo do dia: o que é um(a) professor(a) para você?