※Maria Bethânia ※
♪ MEMÓRIA – Maria Bethânia considera a estreia no teatralizado show Opinião, em fevereiro de 1965, com o marco inicial da trajetória profissional da artista. Tanto que Bethânia criou toda uma mítica em torno da alardeada data da estreia da cantora, 13 de fevereiro, quando, a rigor, anúncios em jornais da época indicam que a estreia da intérprete no Opinião, substituindo Nara Leão (1942 – 1989), aconteceu efetivamente em 11 de fevereiro.
Qualquer que tenha sido a data da estreia de Maria Bethânia em palcos cariocas, o fato é que a artista tem uma pré-história profissional na Bahia e, se contabilizada a data da real entrada de Bethânia em cena, a intérprete completa 60 anos de carreira neste segundo semestre de 2023.
É que, a rigor, Maria Bethânia deu o pontapé inicial na carreira artística em 1963, com 17 anos, ao participar de encenação de Boca de ouro (1960), texto do dramaturgo Nelson Rodrigues (1912 – 1980), em montagem realizada em Salvador (BA) com trilha sonora assinada por Caetano Veloso, o então também debutante irmão de Bethânia.
Cabia a Bethânia abrir o espetáculo com o canto, no breu, da música Na cadência do samba (Ataulfo Alves e Paulo Gesta, 1962), sucesso recente, lançado no ano anterior.
Desde então, Bethânia nunca mais saiu de cena, mesmo que, na época, ainda não tivesse o objetivo de se tornar cantora profissional.
Na sequência, já em 1964, a artista integrou o elenco do show coletivo Nós, por exemplo..., apresentado em agosto daquele ano, sob direção de Roberto Santana e Gilberto Gil. Ao lado de Bethânia, estavam Caetano Veloso, Gal Costa (1945 – 2022), o próprio Gil e outros artistas emergentes na então efervescente cena cultural de Salvador (BA).
Três meses depois, em novembro de 1964, Bethânia reforçou o elenco de outro show coletivo, Nova bossa velha & velha bossa nova, este dirigido por Caetano com Gil e Alcivando Luz.
E foi também em 1964 que a cantora apresentou o primeiro show solo, Mora na fisofofia, com roteiro seguido na cadência do samba e do samba-canção – sob direção do já recorrente Caetano Veloso – com músicas de compositores como Antonio Carlos Jobim (1927 – 1994), Carlos Lyra, Herivelto Martins (1912 – 1992) e Noel Rosa (1910 – 1933).
O resto foi uma história que ganhou projeção nacional a partir de fevereiro de 1965 e que ainda terá novos capítulos. Além de álbum previsto para 2024, Bethânia tem na pauta negociações para percorrer o Brasil, também em 2024, com show inédito ao lado do mano Caetano. Seria a primeira turnê em dupla dos irmãos desde a primeira e por ora única, realizada em 1978, há 55 anos.
Com ou sem turnê com Caetano, o fato é Maria Bethânia está em cena há 60 anos sem perda da majestade. Cantora de personalidade cênica tão forte quanto o temperamento, Bethânia sabe o que quer e sabe por onde vai. Tanto que, de todas as grandes cantoras da MPB, é a única que nunca se curvou aos conceitos de produtores musicais.
O canto dramático sempre se impõe sobre todas as coisas – e esse canto é a nobreza de Maria Bethânia Viana Telles Veloso. Por isso mesmo, a cantora se conserva majestosa aos 77 anos de vida e, sim, 60 de carreira.