Aquelas mãos
Sinto saudade daquelas mãos habilidosas,
Mãos jeitosas, talentosas, fascinantes.
Mãos sábias, em seu trabalho dominantes.
Eu admirava tanto aquelas mãos,
Sempre tão experientes, tão fortes e práticas.
Eram mãos pequenas, serenas, pacíficas, táticas.
Lembro muito bem daquelas mãos, de alvo preciso
Com gestos técnicos, competentes, de mira certeira.
Mãos surpreendentemente eficientes.
Mãos que averiguavam os segredos, sem receio
Acariciavam, examinavam, tranquilizavam,
Tratavam das gentes tão habilidosamente.
Aquelas mãos eram tão confiantes.
Mãos seguras, mãos maduras, mãos estáveis,
Mãos equilibradas, mãos por Deus abençoadas.
Mãos que carregavam o segredo de amenizar
O sofrimento, de aliviar a dor, porque
Além da perícia, carregavam amor.
Mas aquelas mãos, outrora servidoras
Clamam agora silenciosas por um carinho,
Por um afago, por um gesto de ternura
Reclamam um laço que retribua tanta afeição.
Solicitam uma lembrança consciente do bem-querer
Doado para as todos por longos anos infatigavelmente.
E essas mãos agora tão fatigadas, trêmulas,
Frágeis, oscilantes, inconstantes, dantes autoconfiantes, ainda são as mesmas mãos benevolentes, zelosas
Mãos que tanto serviram sem distinção
Aquelas mãos carecem agora de reconhecimento
De cuidados, de apreço e consideração.
Do meu livro Alma terna flutuante. p. 20
Para Adalcina (minha mãe)
Auxiliar de enfermagem e parteira que serviu com tanta dedicação e amor, por quase quarenta anos, de pessoas que necessitaram dos seus conhecimentos e cuidados.