Idealista
Era mais uma reunião de greve naqueles anos 70 e ela congregou um grande número de estudantes na FCMBB.
A Assembleia foi na quadra de esportes, o maior espaço disponível para a ocasião.
Seguramente eram tempos de repressão e autoritarismo. Às falas dos colegas ela aplaudia com comoção e todo apoio.
Minha amiga sempre presente nestas reuniões e cheia de coragem e ideal como se é nessa fase da vida, me contou essa história.
Um pequeno grupo de jovens identificados como não alunos da faculdade, foi notado por ela.
Deles, um jovem alto, magrinho, a olhou sem trégua, e entre curiosa e fascinada que pudesse ouvi-los, viu os meninos em conversas com nossos representantes para em seguida se afastarem.
Apesar de detestar sair dos bastidores e de nunca abrir a boca, ela correu até os dirigentes do Centro Acadêmico e, perguntou porque eles estavam saindo e sem discursarem. A resposta foi: nem alunos eles são, são comunistas. Ela falou, por favor, deixe-os falar! E a resposta foi: “nos votamos, e ganhou isso, e, está decidido”.
Ela ficou arrasada: queria tanto ouvir estas ideias.
Queria tanto conhecer a voz do rapaz alto, magrinho, e de cabelos quase ruivos e encaracolados.
Em situações de alta aflição, ela bem que guardava a introspecção e ia garantir o conhecimento que almejava, Pensou rápido, levantou-se, planejou atravessar todo o gramado, mas, era tarde, ele já tinha ido.
Ficou uma lacuna.
Ficou uma falta
Ficaram muitas perguntas
Contou para o pai, para mim, para todo mundo.
Lamentava que ela e todos perderam a grande oportunidade.
Acreditava que aquela tristeza do aprendizado esperdiçado se repetiu em sua vida futura
A vida passou inóspita
Sem aprofundamentos e sem estudos políticos
Com aquela compreensão rasa da conjuntura nacional
Onde estão aqueles meninos?
Onde está aquele menino alto e magro, de cabelinho encaracolado, que de cima de uma pedra (ou coisa que o valesse), mão direita na cintura, olhava com desencanto, enfrentando o sol, aqueles jovens, aquela era, aquela vida?