UM DIA COM MEU PAI
Lembranças e esta saudade aflitiva que não passa, que insiste. que cresce. Plantavamos mudas de crisântemos já com flor e eu ainda sem juízo. Quantas primaveras se passaram. Quantas noites que me sentei no teu colo a contar estrelas. Para desaparecermos num golpe de luz forte. Para sempre. Quantas heras-de-verão cobriam cada vez mais o muro e os lirios começam lentamente a florir. As pareiras de uvas. Gostavas tanto de uvas. Ao fim da tarde a bacia cheia delas. E ficávamos a comê-las e adivinhar o futuro. Não sei se algum dia serei tão feliz como querias. Tenho pena que não tenham te conhecido todas as pessoas que hoje me conhecem. Falo de ti e não percebem de que ternura eras feito. Do sossego dos teus olhos azuis. Quase sempre me custa respirar, viver. Já nada posso partilhar contigo. Já não te posso dizer: Pai, deixa-me aqui ficar. Quero chorar muito tu puxavas-me para ti e abraçavas-me com força. Quando parava de soluçar pousavas as tuas mãos nas minhas costas e ficávamos assim horas. Mais tarde seguravas-me no queixo e dizias: sossega coração triste. Se o amor existe deve estar para chegar. Saudades.
* Um Feliz dia dos Pais a todos Pais recantistas