A Biblioteca Herdada
Normalmente o desconhecido, o novo, nos dá aquele famoso "friozinho na barriga".
Mas comigo não foi assim, me mudei de uma cidade que eu amo, para uma em outro estado que aprendi a amar.
Tive um grande prazer ao começar a visitar um grande homem, o meu tio-avô Homero Sartini, tio-avô por parte de mãe.
Foi um tempo muito bom, onde o mesmo se encontrava há apenas 8 meses viúvo, me pedia para visitá-lo todos os dias.
Assim que eu chegava em sua casa, lá estava o meu tio querido, com um livro, ou um jornal ou uma palavra-cruzada sempre a mão.
Assim que nos víamos, sorríamos um para o outro, e ele me mandava ligar para a minha avó que morava do outro lado da cidade.
Conversámos sobre os mais diversos assuntos, mas havia sim, um principal: a Farmácia.
O meu tio era Farmacêutico prático, trabalhou algumas em sociedade com seus outros dois irmãos. pois naquele tempo não havia muitas faculdades e o mesmo era obrigado a aprender na prática.
Resolvi seguir os seus passos, em março do ano de 2014, ainda recém chegado a minha cidade-natal, iniciei o curso de Auxiliar em Farmácia e Manipulação. Sempre aos sábados á tarde e em seguida ia para a casa do mesmo.
Quando eu ia visitar o Sebo aqui da cidade, a vendedora perguntava sempre do seu Homero, se ainda estava vivo, lendo os seus bang bang. Perguntava o porque ele não estava mais indo lá no Sebo, esse tipo de coisa gostosa de conversar em cidades do interior.
Um dia ele, estava chateado, falava que os netos não ligavam muito para ele, iam muito pouco na casa dele, quem os visitava com mais frequência eram mesmo os seus filhos, a minha avó e eu que estava lá todos os dias, ou quase.
Nesse dia, ele me disse que assim que ele morrera gostaria que a Biblioteca dele ficasse para mim, porque na família por parte de mãe, somos todos leitores.
Eu não sei se ele estava falando sério ou brincando, mas eu lembro que falei pra ele, olha tio, se depender do quanto o Senhor é querido por mim e por todos eu espero que o Senhor nunca morra então eu não vou ter esses livros.
Ele abriu o maior sorriso do mundo, me deu um abraço, uma furtiva lágrima saiu de seus olhos, E ele me disse vai agora para a sua aula do curso Técnico de Farmácia e amanhã me ensine tudo o que você aprendeu.
Era uma quinta-feira e na sexta eu voltei para a sua casa e o ensinei.
O tempo passou muito rápido para nós em pouco mais de dois anos morando na mesma cidade o meu tio faleceu.
Bem no dia que eu fui Aprovado no primeiro concurso, em um 11 de setembro.
Além de sua bilbioteca, ainda fui contemplado com um bloco e um copo do Palmeiras.
Time que por conta dele ter sido Conselheiro, eu passei a torcer ainda mais.
O coração do meu tio parou de bater em uma tarde de domingo ensolada e o nosso coração passou a bater de uma forma mais triste.