VOVÓ BERNARDINA
Bolsonaro disse que indicaria para Juiz da Suprema Corte alguém “Terrivelmente Evangélico”. Parodiando o ex presidente, digo que minha avó materna era “Terrivelmente Católica”.
Bernardina Alves da Costa nasceu em família católica e continuou católica praticante por toda sua vida. Nasceu e viveu sua juventude em Curitibanos – SC. Casou-se e foi morar na Fazenda Canoas, onde teve 16 filhos, dos quais 13 sobreviveram e chegaram à idade adulta.
Vovó costumava rezar o terço com a família reunida e também orava após as refeições, agradecendo pela saúde e pelo alimento à mesa. Junto com seu marido, Antônio Pereira de Camargo, educou suas crianças em casa, no sítio, contratando um professor particular. Após esses primeiros estudos, muitos dos filhos foram para cidades maiores, onde cursaram ginásios e faculdades. Minha mãe, a mais velha das meninas, foi para Florianópolis onde terminou o ensino básico. Depois, em Lages, fez a Escola Normal, tornando-se professora. Lecionou em Curitibanos, para o primeiro e o segundo graus até se aposentar, após 25 anos de trabalho.
Vovó era muito doce, pequena de estatura, parecia frágil. Entretanto, só parecia, era enérgica e determinada. Nunca bateu em nenhum dos filhos; diziam que era bondosa e os disciplinava com carinho e persuasão.
Convivi muito com ela quando passava as férias escolares em sua casa. Já era idosa, enquanto residia em Campos Novos – SC. Ia todos os dias à missa. O casal escolheu um terreno atrás da igreja, onde mandou construir sua casa. Era um lote grande, com jardim, horta e pomar, onde vovô, que fora homem do campo, plantava suas pequenas roças de milho e feijão.
Quando eu, minhas primas e primos, declinávamos do convite de vovó para irmos com ela à igreja, todos os dias, dizia:
- Vocês estão ficando hereges!
Ela não nos forçava e nem insistia. Já caminhava com alguma dificuldade, parecia ter pouco equilíbrio. Logo após os 80 anos sofreu um AVC que limitou tremendamente seus movimentos. Seu padecimento, na cadeira de rodas e na cama, durou cerca de 7 anos. Todos ficamos profundamente entristecidos e eu me perguntava:
- Por quê uma pessoa tão generosa e piedosa tinha que sofrer tanto?
Não há respostas. Ela diria que são os Desígnios da Providência, que devemos aceitar sem questionar...
Nos deixou exemplos e lições valiosos para a vida. Um deles foi a fé, outro a serenidade para enfrentar as adversidades.
A mim, deixou também o gosto pela natureza, as hortas e jardins...sua ternura e seu amor.