Glicerina pura
De tão musical que nascera, e logo que no trombone a boca botou, abrindo o bué, o Glicério saiu do sério. Era músico, artista, aceito em qualquer roda, dançante em qualquer pista. Adeus deu para o maçante trabalho dos teares e, farrista, saiu a procura de nuevos y buenos aires.
Se te disser que chegou à Argentina, acredita, pois de Evita aquela terra, perón que sí, perón que no, quem iria falar em eVittar? E vai ver que o Glicério graça achou, se enamorou e, por pouco não se amarrou. Pode ser que tenha ficado só nesse Brasil - ...sem fronteiras, sem paredes..., como afirma o poeta Djalma Andrade - mas a sua música ultrapassou fronteiras da nação e da imaginação, de tão batuta que foi seu tocar. E que danação...
A fama não deu sossego ao nego, filho de Benedito: agradando a troiano e grego, pelas `brahma` é que foi pego. Entregue à boemia, abandonou-o, enciumada, a sinfonia. E o beber fez a noite virar dia e do círculo vicioso e de vício só, já o Glicério não saia.
Rezas, benzeções, promessas da família para que o moço se endireitasse acumulavam- se nas escrivaninhas e nos despachos dos Santos, que eram tantos e aos prantos, mas dele desistir da caneca, neca.
Até que ao cabo de muita humilhação, viria o estalo, a curá-lo. E a música, ao abandoná-lo, foi pelo ralo. Para a recordação abafar, e à barulheira dos teares, foi-se render. Submeter para uísque ser...