LUIZ GONZAGA - O profeta Nordestino

LUIZ GONZAGA

O profeta Nordestino

Falar do mestre Lula é fácil, às vezes me parece difícil. Difícil, devido ao grande material já existente no mercado literário, sempre enaltecendo esse profeta.

Desde o Exu, passando pela sanfona branca que lhe tornou Rei, ao seu pai Januário.

Passados vinte e poucos anos da sua despedida da vida e dos palcos, eu vejo hoje o mestre Lula quando saiu às ruas, quando ligo o rádio ou a TV. Porque as suas profecias são eternas e estão no nosso cotidiano, nos sertões, nas cidades e na alma do sertanejo.

Ele já profetizava que o JUMENTO É NOSSO IRMÃO. Hoje abandonamos esse irmãozinho a própria sorte, sem identidade e sem destino, morrendo atropelado nas rodovias, antes percorridas por eles. O capitalismo e a modernidade estão matando o gangão seu Lula!

Eu também vejo esse profeta, em cada casa abandonada nos sertões. A estiagem com suas conseqüências, as promessas vazias dos políticos e o êxodo rural, fizeram aquelas famílias, fazerem uma TRISTE PARTIDA, para nunca mais voltar...

Ah seu Lula! Eu vejo a confirmação das suas palavras, no rosto de cada ex-lavrador, agora homem da favela, que trocou a roça e a colheita, pelos lixões nas grandes cidades, competindo agora, espaço com os gabirus. Essa cena profética relembra aquele pau de arara rodando para o Sul, a boneca que ficou para trás e o gato mimi que morreu de saudades. Quando ligo minha TV, na imagem, vejo refletir suas profecias. E logo percebo essa atual falta de musicalidade. É a MORTE DO BAIÃO, do cantor e da composição.

Eu vejo seu Lula no leito do riacho seco, no córrego morto, na ossada do animal que não resistiu à sede. Também no peixe que agoniza no lago e no ronco da moto-serra. Luiz, Luiz!... A terra está morrendo, o verde está morrendo, os sertões viraram desertos com o êxodo que tem a passagem só de ida.

Luiz, Luiz!... Já não se vê mais o colorido de um balão no ar, nem a sala de chão batido de uma CASA DE REBOCO, e o FOLE DE OITO BAIXOS no canto da parede, animando o sertanejo. É só casa vazia, esperando na solidão dos seus dias, por aquela família que não voltará jamais.

E a ACAUÃ seu Lula! Virou até nome de barragem lá pras bandas da PARAÍBA MASCULINA, já o ASSUM PRETO, o homem achou que apenas furar-lhe os olhos não era o bastante então tentam exterminar toda espécie, como se assim, a natureza, ficasse mais bonita. Já A ASA BRANCA mestre, essa bateu as asas para sempre e só nos resta revê-las, cantada no seu hino para o Nordeste. E o SABIÁ, coitado do bichinho! Como tanta espécie que você também profetizava o seu fim, ele quase desapareceu do reino animal e a muito já não mais se vê. E como se num XOTE ECOLÓGICO em defesa do que ainda restava, você selou suas profecias para com os homens. Esses na sua infinita ambição desconheceram o seu grito de alerta.

E agora seu Lula, a natureza geme e quase já não mais brota nenhum pé de MANDACARÚ e até o ar que respiramos tem o cheiro de gasolina. Da fauna, agora quase só nos resta os URUBÚS, muitos urubus seu Luiz! E COMO SE FÓSSEMOS PRESAS FRÁGEIS POUSAM SOBRE A CABEÇA DAS NAÇÕES E POVOS, ANTES DEFENDIDOS POR LUIZ GONZAGA.

Amiraldo Patriota

Amiraldo Patriota
Enviado por Amiraldo Patriota em 22/05/2023
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