MAMÃES DE ONTEM E DE HOJE

 

Corria o ano de 1953 quando nasceu meu irmão do meio, o Odilon. Mais tarde, em 1959, veio ao mundo o mais novo, o César. Quando Odilon nasceu, eu tinha exatos 6 anos e 12 quando César veio ao mundo. Aos 6 anos eu já era uma criança observadora e tinha alguma noção de mundo ao redor.

 

Aos 12, havia adquirido muito mais experiência e ajudei a cuidar desses dois irmãozinhos. Hoje, avançada em idade, gosto de rememorar e fazer um contraponto com os costumes daquela época e de agora. Enquanto grávida, minha mãe usava roupas largas, batas e vestidos que ela mesma confeccionava, com pregas para esconder e acomodar confortavelmente a enorme barriga. Mulheres não usavam calças compridas naquela época. Hoje, as grávidas orgulham-se ao exibir as barrigas. Leila Diniz, que ousou mostrar sua gravidez na praia, em minúsculo biquini, na década de 1960, foi execrada pela mídia e pela sociedade conservadora.

 

Após o parto, seguia-se um ritual, a mulher ficava em quarentena, em casa, na maior parte do tempo no quarto, com cortinas semicerradas, em repouso. Mamãe criava galinhas em um cercado no quintal. Nos primeiros dias, vovó Mariquinha, sua sogra, sacrificou algumas para preparar-lhe canjas, pois a mulher que havia recém parido não devia se alimentar de comidas pesadas. Hoje, as mamães trabalham até o nono mês (vide Ivete Sangalo), têm bebês após os 50, (como Claudia Raia), saem do hospital no dia seguinte ao parto e assumem a direção do lar quase que imediatamente, a não ser que tenham alguém para lhes auxiliar.

 

Os bebês ficavam no quarto, na penumbra, enrolados em fraldas, apertados, com mãos e pés presos em cueiros, como se fossem camisas de força. Um alfinete fechava o cueiro à frente para que não se soltasse. Hoje, os recém-nascidos saem do hospital com calças, casaquinhos, camisetas, vestidinhos... que lhes permitem movimentar-se à vontade. Raramente usam gorros, toucas, sapatinhos, luvas e babeiros, como antigamente. Talvez, nem faixas para proteger o umbigo até a cicatrização. De vez em quando dava-se ao neném um chazinho de erva-doce na mamadeira, costume que, creio eu, ainda se usa. A chupeta tornou-se uma instituição, para acalmar os mais chorões.

 

E tome lavar fraldas. Naqueles tempos, os varais ficavam cheios, dia e noite, destas e de outras roupinhas. Nada de lavadora ou secadora. Somente as fezes iam para o lixo. Hoje, as fraldas não reutilizáveis vão poluir os lixões, os aterros, os rios e mares com seus forros de plástico não degradáveis.

 

Bem, tudo que narrei são fatos acontecidos há cerca de setenta anos. Muita coisa mudou. Só permanece igual o amor de mãe, sua dedicação, seu sono prejudicado pelo choro do rebento, a trabalheira para alimentá-lo, lavar suas roupas, deixá-lo confortável e esforçar-se para fazer dele um ser humano honesto, justo, educado, trabalhador, a continuar a saga humana através dos tempos.

 

Eis aí minha homenagem à minha mãe já falecida, a ela devo quase tudo o que hoje sou. E, homenageio também  todas as outras mães.

 

Bença, mãe!! Como eu fazia quando criança e ela vinha me cobrir antes de se deitar. Foi um privilégio e uma benção tê-la comigo por tanto tempo. Ela faleceu em 2014 aos 96 anos.

 

 

Aloysia
Enviado por Aloysia em 13/05/2023
Reeditado em 15/05/2023
Código do texto: T7787547
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