Hortênsias - Poema Homenagem ao Oscar Niemeyer, em seu Centenário

Hortênsias

(Poema Homenagem Para Oscar Niemeyer)

Silas Corrêa Leite

ontem eu vi Oscar Niemeyer

numa avenida paulista

tomava caldo-de-cana

como se espremesse frutas

bebia daquela doçura

como quem apalpa um halo

e olhava os horizontes

querendo, neles, pôr calço

ontem eu vi Oscar Niemeyer

que é menor que gabirova

pequeno como candura

sem pose de ser medida

tinha sonhos sem cimento

estática como um emissor

e punha reparos nas coisas

da Augusta Sampa embrutecida

ontem eu vi Oscar Niemeyer

descendo a Rua Augusta

(ou seria a Mário de Andrade

pois que não apreciei direito?)

tinha palavras em si

como cabem na videira

e ouvia com prazeirança

os ruídos do progresso

ontem eu vi Oscar Niemeyer

entre uma bodega , um circo

nem preciso dizer direito

tenho certeza , era ele

parecia com Juscelino

um pouco com Burle Marx

mas era tão brasileirinho

como uma palmeira ao sol

(meus alunos não acreditaram ;

minha mulher disse - é incrível

- mas eu só acredito vendo -

falou-me, sem entusiasmo)

tapei o sol com peneira

olhei para uma árvore , vi

também ela era ele sim

pois se muito me parece.

ontem eu vi Oscar Niemeyer

chispando pegar um táxi

foi-se embora antes da chuva

com sua postura Brasília

fiquei olhando seu corpo

caldo de cana-de-açúcar

depois fui camelar hortênsias

num dia de todos os santos

E-Mail: poesilas@terra.com.br

Silas Corrêa Leite é poeta, professor e mora em São Paulo (SP). Membro da UBE - União Brasileira de Escritores, autor de "Trilhas & Iluminuras", poemas, Coleção Prata Nova, Editora Grafiti - RS. Seu poema "Cara(s)Vel(h)as" foi premiado no Concurso de Poesia do SESC/Rotary de Cornélio Procópio - Paraná. Autor do e-book "O Rinoceronte de Clarice" e "ELE está no meio de nós".