A mulher da minha vida sou eu!

Pode parecer presunçoso escrever algo assim, já que a admiração nutrida por minha mãe, um exemplo de sabedoria e grandiosidade feminina, herdada de minha avó, daria a ela o título da grande mulher. Mas ela já sabe. E ainda que repetisse milhões de vezes, a cada ano, seria insuficiente a homenagem.

Por isso, ouso dar a mim o status de uma grande mulher. Não porque tenha descoberto a vacina da covid ou por ter me tornado uma notória cidadã que salvou a vida de milhares de pessoas no ofício de resgate, infelizmente não foi isso que escolhi...

Mas sou uma grande mulher porque dei conta de ser, em meio ao patriarcado machista, alguém sensível.

Sentir é um peso enorme, e fazer desse sentimento um apelo literário, custa caro. Não porque tenha preço, mas porque é preciso por a cara à mostra e, por vezes, expor vísceras.

Não me envergonho de sentir, o "sentir dá sentido à vida". E, por mais que pareça fácil a exposição gera em nós uma espécie de expectativa: o que toca o outro?

Eu sou mulher e teço linhas soltas, como se fossem cordas bambas, que revelam a minha natureza: intensa e verdadeira.

Eu mereço ser e mulher da minha vida porque superei obstáculos e, mesmo na solidão, fiz barraca de vigília pra não deixar morrer em mim, a identidade que cabia.

Sou mulher porque tive coragem de chorar as "pitangas e os jilós", sem descascar nenhuma "cebola".

Porque levantei bandeiras pisoteadas e me dei um abano de paz.

Porque ri de mim, porque coloquei a chave do carro na geladeira e a margarina no chaveiro.

Porque apertei o controle remoto do carro, querendo abrir a porta da casa.

Porque chorei como se fosse o último dia, apenas por ter perdido um relógio fitness.

Porque amei sem medida e sofri por rejeição.

Por ter desejado encontrar no outro, o que estava dentro de mim.

Por ter plantado uma "zamioculca" e matá-la por excesso de água (até o cuidado em excesso é um desastre).

Eu sou a mulher da minha vida porque carrego água em peneira furada; grito, quando preciso de silêncio; choro, vendo CSI; e, penso em desistir da carga, mas esqueço, porque não nasci pra perder...

Nem mesmo a cabeça...

Mônica Cordeiro
Enviado por Mônica Cordeiro em 16/03/2023
Reeditado em 16/03/2023
Código do texto: T7741556
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