Homenagem ao querido Prof. Dr. Wladirson Cardoso
Bom, o que dizer de uma pessoa como o Wladirson?
Será mesmo que a língua portuguesa possui palavras para descrever tal acontecimento?
Digo “acontecimento”, pois o Wlad era o próprio acontecer, o próprio desvelar-se.
Em cada situação tínhamos uma pessoa espontânea:
Nos momentos de dificuldade, um companheiro;
Nos momentos de insegurança, um incentivador;
Nos momentos de debates, um grande professor.
Nos momentos de instabilidade, um militante aguerrido;
O conhecemos num momento crucial e determinante, estávamos num momento de muito desgaste dentro do curso, talvez até desmotivados.
O Wlad representava uma engrenagem que estava faltando no circuito, passamos a ter aulas com ele e sua maneira de falar sobre filosofia ia encantando a cada segundo em que falava.
O primeiro texto que estudamos com ele foi “As teses sobre o conceito de história” do Walter Benjamin. Lembro bem que ficávamos num completo vislumbre por ele conseguir falar por 3/4 horas seguidas sobre um parágrafo. Olhávamos uns aos outros estupefatos e encantados com o tanto conhecimento que ele despejava.
Lembro bem que tive uma conversa com ele, meados da metade do ano de 2019. Estava desanimado pela dupla jornada: Trabalhar pela manhã, ir andando até a UEPA e ficava para a aula a noite. Falei para ele que não estava conseguindo focar nos estudos, mas precisava de dinheiro para me manter. Prontamente o "Wlad" falou para mim: “não desiste, és esforçado e eu acredito em ti; além do mais podes tentar a bolsa de monitoria”. Esse foi o estalo que faltava, fiz a prova de monitoria e passei, conseguindo a bolsa que foi fundamental em minha vida.
Vivemos tempos difíceis no curso de Filosofia, o curso foi, por muito tempo, colocado de lado e apagado dos espaços da universidade. Em 2020, ano que iniciou minha bolsa, era apenas eu e outra companheira com bolsa num curso com inúmeros alunos. Com todo empenho, motivação, garra e força, Wlad nos incentivou e nos mobilizou.
Assumimos a gestão do Centro Acadêmico que tínhamos como combustível a força e determinação de Wladirson. No ano de 2021, fui para a minha segunda bolsa, mas agora com um diferencial: o curso não tinha somente 2 bolsistas, conseguimos colocar 11 alunos como bolsistas. Pode parecer pouco, mas para um curso que estava abandonado e sem bolsistas, engajar uma galera que estava perdida é um grande feito e esse foi o feito de Wladirson. Ano esse que foi uma faca de dois gumes: deu e nos tirou.
Infelizmente veio a pandemia que desarticulou tudo aquilo que tínhamos conquistado com muito esforço e nos tirou também nossa engrenagem.
Mas vocês podem perguntar: o circuito parou de novo? Digo-lhes, claro que não! Tal foi a força de Wladirson que nos tirou da condição de sermos apenas uma parte do circuito e nos transformou também em uma engrenagem que funciona com força para transformar outras partes também em engrenagens. Um sistema operatório que funciona pelo ímpeto de amar o que faz tal qual como em Wladirson. Esse é um grande legado dessa figura que, pra muitos, era tido como vaidoso, mas para aqueles que realmente o conheciam sabiam que era apenas uma pessoa que sabia sua capacidade intelectual e que fora conquistada com muito esforço e dedicação. Falo em nome do Grupo Maiêutica, pois possui uma leva de pesquisadores que foram impulsionados pelo Wladirson e se hoje podemos nos chamar de pesquisadores é por causa de Wladirson. Assim queremos continuar e incentivar as próximas gerações de discentes do curso a se engajarem, a entenderem que é possível pela pesquisa em filosofia alcançar grandes feitos.
Fernando Pessoa no seu poema chamado “Se queres te matar” diz o seguinte ao falar sobre a morte: “Depois, lentamente [de ti] esquecem. Só és lembrado em duas datas, aniversariamente: Quando faz anos que nasceste, quando faz anos que morreste; Mais nada, mais nada, absolutamente mais nada. Duas vezes no ano pensam em ti”. Ouso a discordar fielmente de Pessoa. Como esquecer de um legado vivo, vivo a medida em que nossas vidas foram transformadas pelo seu brilho, no qual sua existência física deu lugar, forçosamente, a uma potência dentro de cada um de nós e que nos motiva a sempre superar nossos limites.
Retomo Pessoa, agora respondendo uma pergunta existencial no poema chamado “Tabacaria”, no qual pergunta: “O que sei eu do que serei?” Respondo: do futuro nada sei, mas tenho a certeza de que os grandes voos terão sido impulsionados pelo Professor Wladirson.
Presto minha sincera homenagem em tons que formam um degradê de saudades e gratidão. Que você permaneça vivo em nossas lembranças que sua potência continue compondo os ritmos de cada um dos corações que o conheceu. Foi/é um privilégio ter o conhecido e quero que saiba que iremos lutar com toda a força contra aqueles que pensam que irão ameaçar a Filosofia. Um enorme salve ao Professor Doutor Wladirson Ronny da Silva Cardoso.
Felipe da Silva Lopes