Réquiem para Marielle
Não fostes embora. Não
Sei que inda danças
Nos rituais d'aurora
Nas fontes ancestrais
Abraço tua sã translucidez
Tua altivez etérea, irmã
Bebo-te os sagrados ideais
Plantados em dissertações
Orações do feminismo
Preces contra o racismo
Venham humanizar o mundo
De Raimundos, Marias, Marielles
Zelem pelas mulheres pretas
Periféricas e faveladas
Pelas peles enlutadas de nascença
Pelos negros olhos em doença de choro
A noite há de clarear as desigualdades
O dia há de findar as desavenças
Complexo é sim o mote da vida
Balançada é a maré de infortúnios
De morros, tábuas e tiros – pápápá
Hahaha – são balas que nada adoçam
São balas que acham corpos certos
Certos corpos em uníssono de cor
Tal dissabor colonial, deveras atual
Vereadora de alta e insubmissa voz
Calaram a ti, desviveram a ti
Ouça-me atenta: caçaremos teu algoz
E bradaremos: Kaô Kabecilê, Xangô!
Em tempo: a mais pesada pedra se porá
Pesará sobre a cabeça do teu sicário
Assim profetizou o poeta proletário
Teu aguerrido irmão e panfletário