Réquiem para Marielle

Não fostes embora. Não

Sei que inda danças

Nos rituais d'aurora

Nas fontes ancestrais

Abraço tua sã translucidez

Tua altivez etérea, irmã

Bebo-te os sagrados ideais

Plantados em dissertações

Orações do feminismo

Preces contra o racismo

Venham humanizar o mundo

De Raimundos, Marias, Marielles

Zelem pelas mulheres pretas

Periféricas e faveladas

Pelas peles enlutadas de nascença

Pelos negros olhos em doença de choro

A noite há de clarear as desigualdades

O dia há de findar as desavenças

Complexo é sim o mote da vida

Balançada é a maré de infortúnios

De morros, tábuas e tiros – pápápá

Hahaha – são balas que nada adoçam

São balas que acham corpos certos

Certos corpos em uníssono de cor

Tal dissabor colonial, deveras atual

Vereadora de alta e insubmissa voz

Calaram a ti, desviveram a ti

Ouça-me atenta: caçaremos teu algoz

E bradaremos: Kaô Kabecilê, Xangô!

Em tempo: a mais pesada pedra se porá

Pesará sobre a cabeça do teu sicário

Assim profetizou o poeta proletário

Teu aguerrido irmão e panfletário

Felix Ventura
Enviado por Felix Ventura em 31/01/2023
Código do texto: T7708523
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