Heráclito Soares Fagundes (Quito)

Um dos filhos de Antonio da Silva Fagundes, Quito vivenciou desde cedo a relação do pai com a música e com a filarmônica. Chegou a tocar trompete na Sociedade Lítero Musical Primavera por muitos anos, influenciado por sua família. Valdirene Fagundes Sarno, uma das irmãs de Quito, relembra que naquele tempo era comum acordar cedinho com o som do trompete, já que era o único horário que ele tinha para ensaiar, pois trabalhava no antigo Banco da Bahia o dia todo.

Não raras vezes, seus irmãos ficavam irritados com o som do instrumento tão cedo, mas logo sua mãe, Ernestina Oliveira Fagundes, acalmava os ânimos dos filhos, dizendo que aquele era o único horário que Quito tinha para treinar as suas lições de música. Logo, todos estavam apreciando aqueles sons logo cedo, compreendendo que aquele treinamento se tratava de um sacerdócio, de uma grande responsabilidade com a filarmônica de Poções. A família vivenciou essa relação fantástica de Quito com a música todos os dias, através dos treinamentos matinais. Puderam ouvir os ensaios diários de um dos trompetistas mais elogiados da região.

Todo esse contexto cultural vivido pelos que conviveram com esse ambiente musical é permeado pela noção de imaterialidade do patrimônio cultural. É como se essas memórias ficassem gravadas em todos como uma tela colorida e com sons, tornando-se um meio de manifestação e preservação dessa riqueza imaterial contida na musicalidade de Quito.

As memórias não remetem apenas às notas musicais emitidas por Quito Fagundes ou por sua dedicação à música e ao trompete, mas a todo o contexto que aquilo representava. Ele tocava no trompete algumas notas que iriam compor um todo com a banda completa. Para a sua família e vizinhos não era apenas o músico ensaiando, mas um dos membros da filarmônica de Poções fazendo os seus treinamentos diários para participar de alguma apresentação.

Quando Quito ensaiava ou tocava, manifestava toda uma história contida na banda, que era um símbolo poçoense. Além disso, criava todas as manhãs uma paisagem musical e cultural na sua casa, fazendo dos seus treinamentos diários uma demonstração de pertencimento a um grupo social. FUNARI e PELEGRINI (2006) esclarecem que uma paisagem não se resume a um conjunto de árvores, montanhas e riachos. Ela é uma apropriação humana que materializa o intangível. Assim também são com as manifestações culturais, vão além dos elementos materiais que a compõem. Não era apenas um músico e o seu trompete, e sim a construção de todo um contexto cultural que durou de 1911 a 1988.

Tio Quito deixou muitas saudades e uma grande nostalgia através das memórias que construiu em todos os que puderam conhecê-lo, mas sempre será lembrado como um dos melhores trompetistas da região em sua época e como aquele que fazia questão de acordar diariamente bem cedo para despertar o mundo com o som do seu trompete.

Referência:

FUNARI, Pedro Paulo e PELEGRINI, Sandra de Cássia Araújo. Patrimônio Histórico e Cultural. 2006. Ciências Sociais – Passo a passo – 66, Editora Zahar, Rio de Janeiro – RJ, Primeira Edição Digital, 171 p.

Antonio Leandro Fagundes Sarno
Enviado por Antonio Leandro Fagundes Sarno em 10/12/2022
Reeditado em 10/12/2022
Código do texto: T7668747
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