Preciso de ajuda, além de meus amigos. O psicólogo não é meu amigo, é um profissional da palavra ...
"Ao invés de afirmar que 'todo mundo precisa' de um determinado tipo de profissional/especialidade, poderíamos encaminhar nossos esforços para afirmar que todo mundo precisa de saúde e saúde mental para viver, utilizando conceitos mais amplos que nos coloquem em relação com o mundo comum em que vivemos, reivindicando que a Psicologia e os demais campos do conhecimento reconheçam que, na oferta de cuidado e saúde, o mundo comum é sempre maior do que a clínica de qualquer especialidade."
Fonte: Nem todo mundo precisa de um psicólogo
Por Danillo Lisboa, psicólogo, doutorando e pesquisador do Laboratório de Processos de Subjetivação em Saúde da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP
Post category:Artigos
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22/02/2021 - Publicado há 2 anos Atualizado: 23/02/2021 as 18:02
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Preciso de ajuda, além de meus amigos. O psicólogo não é meu amigo, é um profissional da palavra ...
Se precisamos de aprender, procuramos o professor ou concursos preparatórios... Se precisamos de melhorar o físico, vamos à academia. Se precisamos de orientações sobre alimentação saudável, estamos diante dos nutricionistas e nutrólogos. E se precisamos de direção espiritual, aproximamos de líderes religiosos e eclesiais. São nichos diferenciados para o bem do ser humano.
E se estamos com dificuldades psicoafetivas, podemos nos abrir com quem? Por quê? O psicólogo é um profissional da saúde mental e não amigo ou companheiro de nossa vida interior. Desde séculos, os seres humanos desejam se libertar de traumas e acontecências psicológicas do mal-estar psíquico. A hipnose estava junto à religião ou outras práticas para dominar a mente e fazer o expurgo do incômodo mental ou espiritual.
Com o tempo, a psicologia se tornou autónoma em relação à medicina e à filosofia. Freud e outros inauguraram metodologias diferenciadas de lidar com o inconsciente e o pré-inconsciente. Vencer a causalidade dos transtornos mentais de ordem intrapsíquica foi a demanda das primeiras gerações dos psicólogos do século 19.
Houve embates sobre os conceitos relativos aos comportamentos e causalidade da patologia mental. De lá para cá, alguns mitos foram sendo vencidos. Novas abordagens avançaram para o bem da saúde mental e social.
Quem precisa de psicólogo? Aquele que deseja não apenas se conhecer, mas abrir-se à saúde mental para melhor ter qualidade de vida e resolver dificuldades que atravancam seu projeto de vida e de relacionamentos sociais e profissionais.
Houve um tempo, embora ainda haja quem pense assim: loucos e doidos precisam de psicólogos.
No nosso tempo, a generalização de que todos precisam de psicólogos foi questionada por muitos, inclusive por Danilo Lisboa, psicólogo, doutorando e pesquisador do Laboratório de Processos de Subjetivação em Saúde da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP.
Veja que destaquei a sua conclusão de artigo acima, cuja citação nomeei ou citei (LISBOA, 2021).
Porque, sendo questão que nos atrai ou nos provoca em defensiva, a psicologia social ou aplicada parte de "corpus" de teorias e proposituras para despertar em quem a busca resultados ou bem-estar afetivo e social. De um lado, se alguns precisam de psicoterapia ou apoio de psicólogo por diversos motivos; de outro, há quem entende que cada um ou todos, em algum momento da vida ira precisar de psicólogo temporariamente. Não se trata de uma mera dependência ou submissão sem perspectivas, ao contrário: procura-se o psicólogo que lhe parece competente e receptivo. Sim, na boa vontade e coragem de que, de agora em diante, conseguirei respirar comigo até que possa ver-me forte ou mais em condições de encarar a minha vida.
Suponhamos que houve uma queda e quebramos a perna, o médico fez cirurgia e indicou repouso, depois bengala e fisioterapia. Ora, o percurso será paulatino de refazer o ritmo e fortalecer a perna que fora comprometida pelo incidente físico ou inesperado. Precisarei de confiança, exercitar-me, ouvir ou ser capaz de internalizar nova rotina de vida ... pois sinto que mudamos de uma estado de fragilidade a outro de pós-fragilidade ou recuperação lenta e necessariamente integradora.
Dessa comparação, podemos inferir a ajuda psicológica de quem está fragilizado emocional e psicologicamente. Situemos como trauma, luto, perdas, ansiedade, depressão etc.
Haverá, então, a via da vida de revisão, reflexão, autoconfiança, livre manifestação de si, aporte da palavra e alusão às situações de fragilidade e embargos, libertação da libido, transferência, racionalização, projeções... mecanismos de defesa em que o psicólogo poderá a algum passo e momento lidar para exercer profissional e eticamente suas intervenções oportunas e necessárias.
Costumo dizer que o braço cansa, é preciso descansar e aliviar as tensões do cérebro e desopilar as energias psíquicas.
Uma e outra - braço e cérebro - partes ou metonímias do ser vivente humano - podem cansar e adoecer. Podem recuperar-se; encontrar nova força para caminhar... Se conseguimos melhor uma parte de nós, o todo agradece.
Ofereço esse modesto texto a todos que, (in)diretamente, me ajudaram a reconstruir minha vida como projeto e como saúde mental. Sem os psicólogos, não teria tanta alegria de viver, entusiasmo no bem, coragem de ser eu mesmo... Paciência comigo e com os outros. Aceitar minha imperfeição na busca de assumir minha subjetividade frágil...