A poética da rua
Sabe aquela rua,
Aquela onde você nasceu, cresceu
E que, de tanta intimidade, você chama de sua
Pois é, tenho a impressão de que a minha rua "morreu"
Na verdade ela ainda está morrendo
Padece um pouco a cada dia
E o tempo que tudo mói, vai triturando, roendo
Ah, como dói, dói tanto que rasga o peito, parece querer arrancar de dentro nossa alegria
Lá já não tem o encanto de outrora
Não há mais aquele doce vendido na esquina
Nem o som do "lê, lê, lerê" desimportante cantado na aurora
Tampouco o louco inocente atravessando a tua sina
Mas sei que aquela rua ainda tem sua magia, mesmo desnudada pelo tempo,
Mesmo cheia de vazios, de tanta gente que partiu, ela ainda é o nosso templo
Mesmo sem Domingos todo dia, sem Antônias, sem Raimundo
Sem as prosas do velho sabido, sem a cantiga da velha esquecida, sem o palavrão do "doido varrido", ainda assim, aquela rua continua sendo o nosso mundo.
(Uma homenagem à Rua Hermes, em Curaçá/BA, e seus personagens)