Rolando Boldrin - Vide vida marvada

"Corre um boato aqui onde eu moro...", que o som do Brasil ficou mais pobre e olhe que já estava paupérrimo.

 

Toda minha esperança, era que fosse só mais um boato. Infelizmente não foi. De fato, partiu nosso grande Rolando Boldrin. Dia 09 de novembro de 2022.

 

"Vide vida marcada"

 

"Sou do tempo"! Eita frase que revela idade, mas eu e minha saudade somos do tempo que o Brasil tinha um som: O SOM BRASIL. Um maravilhoso programa, comandado pelo insubstituível ator, cantor, compositor, declamador e apresentador Rolando Boldrin, que estreou em 1981, na rede Globo.

 

Todo domingo, era o mesmo ritual. Acordava bem cedinho, preparava meu cuscuz, carne frita ou ovos estalados e, claro, café bem forte, como todo bom Nordestino. Logo depois, assistia o desfilar de antigas modas de viola, cantadas por ícones da verdadeira música regional: Tônico e Tinoco, Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Inezita Barbosa, as Irmãs Galvão, Renato Teixeira, Almir Sater, Marinês e Sua Gente e muitos outros, novos e antigos artistas de real valor. Além do próprio Rolando, que diferente do Lero, um homem muito alegre, porém sério, na escolha das suas atrações.

 

Quanta saudade dos causos, declamados com tanta emoção e lágrimas que, sem vergonha, rolavam no seu rosto, já marcado pela maldade do tempo. Nunca foi um fingidor, que Pessoa me perdoe, mas como experiente ator e declamador, tomava para si, toda dor do personagem e nos emocionava, encantava e junto com ele nos fazia chorar a dor sentida, nas histórias relatadas. Como esquecer sua magistral declamação do poema: CRÔNICA DO TEMPO. Ou da poesia de Vinícius de Moraes que abordava a necessidade de chorar a partida dos amigos, porém com sincera verdade e sem hipocrisia.

 

Sempre vivi na cidade, e confesso minha frustração de não conhecer pessoalmente todos os temas das canções e causos, que tanto me encantavam no SOM BRASIL. Contudo o programa do Rolando, reduzia essa lacuna, porque como dizia o tema da música de abertura do programa: VIDE VIDA MARVADA, do próprio Boldrin:

 

"É que a viola fala alto no meu peito humano

E toda moda é um remédio pros meus desenganos

É que a viola fala alto no meu peito humano

E toda mágoa é um mistério fora deste plano...."

 

Vai Rolando Boldrin, leva nossas lágrimas para perto do Criador e agradece a ele, por nos permitir conviver com uma das suas estrelas mais brilhantes.