Salve lindo... (republicando...)

Bilac era aquilo que todos amavam e admiravam: um senhor Poeta. Inspirado, rigoroso com a rima e a métrica e dono de um talento sem igual. E, sem bolsonanismo na época, o seu gosto pelos meninos da direita - e da esquerda, como não?- era relevado, e até dava certo it ao seu charme excêntrico e buliçoso.

Num aspecto, no entanto, Olavo era a imperfeição em verso e prosa: mau administrador de suas finanças, sofrevivia pendurado. E naquele dia em que chegou ao seu alfaiate costumeiro, Augusto da Paz, mágico da tesoura, e tentou encomendar-lhe um fraque, um novo fraque de gala, já que o seu costumeiro andava puído nos punhos e cotovelos, quase foi expulso da alfaiataria por Augusto da Paz:

- Como você ousa, Olavo, quem nem é de Carvalho, encomendar uma roupa de gala, se ainda está a dever-me serviços sartoriais de três anos passados...sem ao menos uns mil-réis de atrasados...? Só pode estar louco!

E Olavo admitiu sua falta, sua desorganização mas foi veemente e insistente e até vitorioso ao final, que Augusto, cedendo, concedeu-lhe fazer o fraque desde que ele, Olavo, se comprometesse a incluir em uma de suas maravilhosas composições o nome Augusto.

Trato feito. Olavo saiu satisfeito da Alfaiataria de Augusto e, dali a duas semanas, devidamente enfatiotado com o fraque de seus sonhos, levou o amigo Augusto ao Theatro Municipal para assistir à cerimônia de premiação de um concurso de hinos, em que ele, Olavo, havia saído vencedor.

E orquestra, maestro e cantor foram feéricos ao entoarem:

...Salve lindo pendão da esperança,

...salve símbolo Augusto da Paz...

Até Luiz Inácio, livre, leve e solto aplaudiu, de pé, e se comoveu ao lado de um também lacrimejante amigo seu, Zé Dirceu...!

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 04/11/2022
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