O CLIENTE INGLÊS - MR. OPPLER

 

Costumava vir ao Brasil duas ou três vezes ao ano. Visitava a fábrica e depois ia ao escritório, sempre para acertar novos negócios, comentar a qualidade da mercadoria, sugerir melhorias, opções de embarque, fretes, seguro e outros detalhes.  

 

A Firma era de exportação e eu trabalhava como secretária bilíngue nesse setor. Portanto, tinha muito contato com clientes estrangeiros. Mr. Oppler era inglês e vivia em Londres. Meu chefe não falava a língua inglesa e nas tratativas de negócios eu estava sempre presente para traduzir e fazer anotações sobre os pleitos dos compradores. Mr. Patrick J. Oppler era cliente antigo e havia estabelecido uma certa amizade com a direção e funcionários, principalmente, aqueles com os quais tinha permanente contato. Algumas vezes vinha só, em outras trazia seu jovem auxiliar, Paul Gates.

 

Era um sujeito alto, de meia idade, magro, muito magro. Viciado em cigarros, parecia acender um novo no toco daquele que acabara de fumar. E tomava café, todas as xícaras que lhe oferecíamos. Tinha um porte elegante, apesar da magreza. Era simpático e extremamente educado, eu diria até, refinado.

 

Eu lhe escrevia cartas amiúde, anexando contratos assinados, documentos de embarque e outros assuntos de negócios. Lembro-me de que datilografava seu nome: Patrick J. Oppler, Esquire (que é uma maneira bem formal de tratar o destinatário, algo como “Escudeiro”. Em português: Ilustríssimo Sr. Hoje estas expressões caíram em desuso.

 

E ele, quando vinha, trazia para o Diretor, para a telefonista e para mim, chás em saquinhos, naquelas exclusivas caixinhas de metal, tipicamente inglesas. Ainda guardo algumas. Era chá preto de muito boa qualidade, sendo meu favorito o Earl Grey, “a subtle blend of quality teas scented with the elegant fragrance of bergamot."

 

Depois de um tempo, Mr. Oppler começou a reduzir a frequência de sua visitas, vindo em seu lugar o jovem diretor. Por ele ficamos sabendo que o cliente se encontrava muito doente, acometido por um câncer de pulmão. Isso nos deixou muito pesarosos porque as notícias subsequentes eram cada vez mais alarmantes. Achava-se hospitalizado, recebendo morfina para aplacar a dor. O prognóstico era o pior possível e dentro de pouco tempo faleceu.

 

Recordamos como fumava e emagrecia rapidamente. Por certo, o vício foi a causa de sua enfermidade. Ficamos deveras entristecidos, pois gostávamos muito dele. Em nome da Empresa, escrevi uma mensagem de condolências que enviei à família. Naquele tempo, década de 1980, o câncer de pulmão ainda não tinha cura, infelizmente.

 

 

 

Aloysia
Enviado por Aloysia em 08/10/2022
Reeditado em 13/03/2023
Código do texto: T7623156
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