ERA UMA VEZ...

                          HOMENAGEM À ALBERTO NASCIMENTO

                   por ocasião comemorativa dos seus 70 anos.

 

Acordado eu sonho, como se dormisse

nos braços da terra amada

e vejo aquela nossa infância

que no tempo, tão distante ficou!

 

Amigos tanto,  daquela época

para onde a Vida os levou?

Alorof, Mans, Henlacos, Jobacasan,

Chula, Djalma, Paulo e Luiz de Queno,

Américo...Lutucha...

saudade de Quinca de Valério!!!

 

Aquilo sim  é que foi vida

compartilhada, vivida em cada detalhe

sem o tal computador.

- Tudo era tão real...

virtual só os sonhos dos meninos,

a imaginar o pote de ouro 

além do arco-iris!

 

Tudo era ao vivo,por isso nunca passou!

Uma infância de artes, manhas e manhãs!

Sem artimanhas e sem automação.

 tudo no improviso da hora!

...

O amigo Betão completa mais um Era, 

sem duvidas feliz da vida que viveu

Saudade do tempo que passou ...

nosso tempo... nossos eninos!

quando a felicidade não era utopia 

pois ele até hoje perdura

feito pedra dura, no  meio do rio 

sem a frustração, do talvez.

 

Pesa na conta das Eras os meninos tantos,

que inda hoje vivem dentro de nós.

 

Ah! aquelas tardes de domingo

sentados num banco do jardim

contando história de terror

com medo saindo pelos poros

insistia, cada um contar

o que vira... o que ouvir...

e na hora de voltar pra casa

Meu Deus! quanto medo! 

 

Todas causo começava com a força da expressão: 

- “Era uma vez!...”

e todos atentos, sentados no no chão ou na calçada

facinio e medo até altas horas!

e um alivio quando o pai o irmão mais velho

vinha chamar para dormir...  não voltar sozinha!

 

Ficamos velhos, sensíveis

com a saudade que ocupou o espaço vazio

Ficamos distantes de tudo que foi

mas ligados ao passado

pelas ondas invisíveis do tempo

que alimentam tudo, que era uma vez...

 

Viajamos nas ondas do vento

pelo azul infinito do pensamento

querendo rever um lugar... um amigo...

Sempre que queremos lembrar alguém...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Vivemos a era do sem fio que previu Drumond...

Imagens e sons na palma das mãos

e hoje todos caminham como robòs

cabisbaixos, teclando celular

não mais olham o horizonte

não aperta as mãos... nem se dão num abraço

O mundo não é mais aquele que um dia foi!

 

Era uma vez!!!! 

Nada mais do que foi, será, nem tão pouco É,

Se foi aquele jeito de brincar de sorrir,

acabou a inocencia do amor.

 

A vida tornou-se elementar meu caro!

banalizou-se os sentimentos, 

fomos expulsos daquele mundo

ou mudamos de planeta?

 

O mundo globalizado

o  celular... o computador! 

A vida por controle remoto!

Um botão a cada passo! 

Pra cada situação um botão!

 

Fases programadas, horas cronometradas...

Se si quer sorrir, aperte um botão

avance uma tela ou pula a fase!

Se si quer comprar, 

não precisa de casa sair!

nem se carrega mais dinheiro na algibeira

tudo se faz nas redes invisível

que não embala ninguem...

 

A vida que era tão bela

custosa  gostasa de se viver!

cada conquista uma emoção... 

um sorriso... 

mas enfim a vida se banalisou!

 

As pessoas andam cabisbaixas,

olhos vidrados, coração indiferente

sem olhar ao redor o quê se passa...

tira self  publica nas murais das redes

massageia o ego vazio de si mesmo...

se exibe, se esnobam,

abusando das vaidades...

Uma guerra fria, imperceptivel

entre ficção e realidade! 

 

Nada de sentimentalismos  

ou apegos.

O amor tornou-se apenas um ato

sem reflexões, ação sem verbo!

 

Os meninos não mais sobem no pé de pau

Não se faz trilhas,  não descamba rios

Não  joga mais pelada de pés no chão;

Bola e bonecas de pano, ficaram no passado...

A emoção é um susto, que surta...

 

.

Ah! que saudade da adrenalina 

ao invadir o pomar do vigário

Roubar as frutas até ouvir o latido do cachorro

e com ele vindo a velha Minervina ou João Banco!...

O carrerão e  chuáá ti bummm!

nas águas do rio!..

 

Roubar melandia! doce aventura

tendo por aliado o rio

era soltar a redonda e acompanhar

pra não  arrebentava nas pedreiras...

 

Ah é pena que dá dó, 

oh! céus... oh! dor!!!

a vida tornou-se um aplicativo

de emoções e tragicas, 

Cenas de um filme

que todos os dias reprisa  na TV!

 

Não vamos mais a lugar algum,  

o mundo jaz em  nossos maõs... caos!

se glorie quem hoje vive em paz.

 

Os meninos de hoje não sabem

o que é infância

Não sabem dela o que sei

O que passei... o que vivi!

 

Bem sabe Bem-ti-vi

que canta no galho do flamboyant

ou o gari a puxar  o carrinho de lixo

assoviando uma canção!

Brincadeiras e namoricos...

é passado careta

a vida hoje é realidade bruta:

- é pegar, ficar e passar adiante

"as consequencias se vê depois"

quando se vê.!

 

 

 

Não se brinca mais 

como outrora bricamos...

Nada de cavalo de pau ou cavalhada!

Roda de ferro e guiador

Sem  filarmônica de tabocas

pelas ruas atravessando dobrados!

Sem o  pião! e bola de gude, o tope... 

A peteca! O volei e pelada de rua...

O banho pelado no lavador  

A barriguda, o Ranchão, o materão

O curral com boiada de osso

O gramado proibido da praça!

O carinho de pau, o bacondê

O coreto da praça! o Educandário

e o sítio do vigário!

 

e o gripo asssombrado afugentando gente

- Olha a vaca de tapa!

e vinha ela doida tombrando...

 

Arrepios de emoções... lembranças!

O trompete de Pedro Ferreira

O tuba de Geraldo Corujão

O clarinete de Seo Hélio e Iôzinho

O sax de Queno e Liozirio

Até os pratos do Velho Xixico..

na filarmonica de tabocas, se ouvia 

Saudando o Divino e o Rosário.

 

Meninos entusiasmados, felizes

num tum tum tum “orquestrado”

Imitando os cortejos folcloricos

de Correntuna...

 

Lembranças por demais,

que não cabem dentro de mim.

Tudo passou  sem ter fim!

Está dentro de nós, está em mim.

 

Perfilados na porta de Seo João Diamantino

Em cavalhadas, filarmônicas ou novenas

Os meninos tocavam dobrados de boca

Ate vir seo João,  com Ele, Flora e D.Sinha

bandejas em mãos...

Qsuco!!!  pão e mortadela,

quando não, bolacha de sal!

e o riso nos olhos de cada menino!!!

Seo João soltava foguetes

insentivando  gargalhadas  felizes!

eramos os musicos, reis e principes...

divinos

sem deixar de ser meninos!

 

E no carnaval, vestidos de caretas

brincava-se de “intrude”

Na quarta-de-cinzas,

correndo pelas ruas e casas,

jogando talco ou água fria,

em quem pela frente passava!

 

Nossas ousadas  pirraças a Militino

Maria Balão, Raimunda Raposa e Dona Cebola...

O grito no buraco do delegado Quincas de Marcolina

cuja máquina tinha um só RÊ!!!

 

A época dos namoros... 

o violão nas madrugadas... as serestas1

a vitrola portátil, nas matinês!

O afã por um beijo...  um aceno,

jO tabu do sexo...  as fantasias eróticas,

saciadas em nuas figuras pinceladas a nankim...

Ai de mim... Aí de mim...

Aí de minhas mãos!

Ai de nós...

Aí de tantos ais!!!

 

Onde estão nossos meninos levados?

e aquelas meninas requintadas e bem  vestidas

onde está a inocencia de outrora...

 

A vida segue por caminhos diferentes

Levando cada um  suas lembranças...

Saudade !!!

 

As ruas de areão

O rio revolto, caudaloso, ameaçador

Invadindo a cidade!.

 

O rei da Pedra... o rei do rio!

O lavador... as mangueira do remansão

O banheirão das mulheres!!!

O marulho das águas.1

 

Para dar-lhe os parabéns amigo

Busquei lembranças tão distantes

e as trouxe pra bem perto de nós

no anseio de mostrar aos filhos e netos

que feliz fomos nós,

longe das modernidades

e tecnologias que esvaziam a vida.

 

Ah que saudade daquela vida

sem violência, sem feminicidios...

Escolas impecáveis

que nos ensinavam, de fato, ser cidadão, 

respeitar e amar nossos mestres!

 

Saudade do ABC, do OSPB,

da Moral e Cívica e do Grêmio cultural.

Tempo em que se aprendia lê, falar

interpretar e escrever.

 

Cantava-se hinos à Pátria,

a bandeira, à familia e a fé...

Todo jovem tinha um referencial

para querer ser igual quando crescesse.

Tinhamos orgulho dos homens públicos

Tinha-se referenciais a seguir.

 

Hoje... hoje!

Querem fazer dos meninos, meninas

e das meninas sapato 44...

 

O mundo precisa acabar

Antes que nossas lembranças se apaguem

e não tenhamos mais razão de continuar.

 

Feliz aniversário, Betão

pois sei que na conta dessas eras

pesa a máxima da vida

quando todo sonho começava 

com a maxima expressão: 

- ERA UMA VEZ...