Dona Belinha

Todas as mães são superiores e extraordinárias, no entanto vou focar na minha mãe , a Izabel Francisca do Nascimento ou melhor como todos a chamavam carinhosamente Dona Belinha , uma nordestina porreta . Qando penso nela como pessoa separando a mãe , penso em eficiência com eficácia, porque tudo que ela fazia era na perfeição, não importava o tempo e sim , a perfeição, era aquela amiga de quem todos que a conheceram lembram se com carinho, apesar dela não ser a figura emotiva , sua prática era de uma perfeita humana e ninguém que precisasse dela ficaria sem sua ajuda, havia o lado espiritual que contagiava, porque ela tinha muita fé em Deus e o servia com muita dedicação, posso vê lá de joelhos a orar se eu fechar meus olhos e posso ouvi lá cantar seus hinos de louvor nos momentos de nostalgia, como se ela estive aqui , também era bem letrada e cheia de conhecimento, sabia até ensinar a ler , e a valorizava a educação institucionalizada , ela queria todos na escola Apesar de não haver humano perfeito, não consigo atribuir a ela nenhuma falha, era cheia de valores que praticava , sei lá parece fato que Deus recolhe cedo suas pérolas, apesar de sabermos que ruins também podem ir cedo, mais me questiono, porque ela morreu tão jovem , não tinha nenhum cabelo branco ainda, estava apenas com cinquenta e quatro anos , devia viver mais , tinha muito a ensinar e a dar , ao menos pra mim, uma de suas filhas , sua morte me deixou muito desanimada e triste, sabia que me faria muita falta , e além de ter partido, foi justo no dia do meu aniversário, passei muitos anos sem conseguir me alegrar aos quatro de outubro, hoje já sei separar os eventos ocorridos na mesma data.

Dona Belinha, era uma mulher morena , de cabelos negros, longos e ondulados, com altura um pouco mais de um metro e cinquenta, sorriso manso e olhar suave, apesar das nove gravidezes ainda cultivava muitas curvas, que davam pra ver por seus vestidos, ela não vestia calças , nunca a vi sem que fosse de vestido e com manguinhas, era bem reservada inclusive em suas vestimentas, comunicativa, amava conversar e contar histórias tanto as bíblicas,como as dos contos, da gata borralheira, cinderela e até ler gibis pra gente , na verdade ela tinha o dom de contar histórias, conseguia dar vida aos personagens e nos prender a atenção sempre deixando um sabor de quero mais .inteligente sabia fazer tudo e estava a frente em conhecimento amava os livros , lia de tudo até bula de remédio, mas tinha a bíblia como sua companheira diária . Recordo bem de uma máquina de costura da marca Elgin , que ela sentava lá e costurava qualquer coisa ,até vestido de noiva como o que ela fez pra filha de uma amiga dela, lembro o nome da noiva se chamava Luciene , o vestido que dona Belinha fez lhe caiu muito bem, ficou uma bela princesa pra aquele casamento realizado na igreja nos anos setenta, com a data da pra imaginar aquele vestido branco e longo, com a grinalda segurando um enorme véu, inclusive ainda nos dias atuais o modelo e ainda e considerado mais apropriado e atual, a noiva ficou completamente a Labelinha, ela era uma mulher de mãos mágicas, que tudo realizava, fazia crochê, bordado , quando digo tudo e tudo mesmo .

Os dons da Dona Belinha eram muitos, lembro que os remédios caseiros, aqueles chás que ela nos servia pra febre dor de cabeça e tá mesmo pra verme apesar do sabor horrível, faziam o efeito esperado .

Ela era precavida e estava sempre pronta até mesmo para sua partida desse plano , eu a vi escrevendo uma carta. de despedida a meu irmão , e apesar de minha pequena idade e responsabilidade guardei aquele segredo, até mesmo de que sabia da carta , ela partiu sem saber que eu havia visto ela escrevendo e que conhecia o teor da carta , não contei a ninguém , e só voltei a lembrar daquela carta

alguns anos depois , no dia em que ela partiu, foi como um clic , lembrei da carta, do remetente e destinatário, fui certa ao local onde estava e como uma carteira, entreguei em mãos , ela realmente tinha o dom da palavra , da orientação e da escrita , fortes emoções ela deixou ali bem organizadas naquela carta . Além dessa carta , no momento em que estava partindo ela veio até a mim, em espírito, tentou me conformar a aceitar os fatos, naquela noite no exato momento de sua ida, sonhei com ela , em meus braços tentando atravessar uma longo caminho de areia movediça e não conseguia fazer a travessia, era como um recado que dizia que ela tinha que ir mesmo, claro que o sonho não me impediu de sofrer , nem tão pouco a aceitar nada, desesperei, isso sim, era minha mãe que ia embora .

Escrever sobre ela me faz descobrir que sempre senti saudades dela, mesmo quando estava em seus braços , e a partir daqui vou lembrar da Dona Belinha minha mãe que foi minha primeira saudade forte, ao nascer tive a falta do ventre, aquele lugar úmido, confortável, sem calor ou frio, onde não tinha fome nem solidão do qual tive que sair em pé, isso mesmo, nasci em pé , com o cordão umbilical envolto no pescoço , imagine como minha mãe sofreu pra me trazer ao mundo . A segunda saudade foi dela também, quando tive que ir pra escola, senti falta da sua companhia, das suas aulas, e até das broncas.

Sabe aquela mãe, que e prática sem ser nenenem ? Era ela, mas com toda sua prática, era cuidadosa e antes de dormir ela contava histórias e orava junto om a gente, despois cobria com lençóis e saia , mas sempre voltava no meio da noite pra ver se está tudo bem e se os filhos ainda estavam cobertos . Essa mãe, assim dedicada era Dona Belinha, as vezes eu me perguntava se ela dormia, ou se era uma mulher maravilha com poder de ficar acordada pra sempre , porque ela estava o tempo todo pronta pra cuidar e se doar aos filhos e a quem precisasse dela .

Lembro que usei roupas exclusivas, bem eram feitas para mim , porque Dona Belinha era quem criava os modelos, costurava e até bordava as roupas que usávamos , então quem irá dizer que não fui especial um dia se usei roupas a Labelinha , feitas exclusivas para mim?

Minha mãe, Dona Belinha, cozinhava bem e fazia doces como ninguém , tínhamos doce de coco, de leite, de goiaba uma infinidade de sabores e o meu favorito era um de laranja da terra que ela colocava num vidro enorme e ficava além de gostoso, lindo de se ver, tudo, a Labelinha.

Eu falei que ela não era melosa, mas eu posso sentir as mãos dela nos meu cabelos, lavando, penteando, fazendo cafuné e até mesmo tirando piolhos e depois colocando belos laços de fita , caprichosa como ela era, os filhos estavam sempre limpos e cheirosos., era tão amorosa que não passava pano em nossas falhas, ela corrigia com longos diálogos e quando necessário até com uns tapinhas . Apesar de ser uma mulher pequena na estatura era gigante nas ações, poderia escrever livros e ainda não esgotaria de mostrar suas qualidades .

Posso garantir que Dona Belinha se não foi perfeita não me permitiu conhecer suas falhas, até o homem para ser meu pai, ela soube escolher, me deu o melhor , lá em mil novecentos e bolinha ela já era inclusiva, aceitava a todos e acolhia , lembro de uma senhora que tinha pés diferentes, dificuldade na fala e múltiplas deficiências que tomava café com nossa família, porque Dona Belinha ensinava nos a respeitar e acolher como carinho a qualquer pessoa , ela exemplificou na prática diária um ser humano .

Carmem Lacerda
Enviado por Carmem Lacerda em 27/09/2022
Reeditado em 16/10/2022
Código do texto: T7615536
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